Na última sexta-feira, dia 9, realizou-se em SFX uma palestra de representantes do Grupo de Vigilância Epidemiológica (GVE) de SJC, do Governo do Estado de SP, grupo esse que trabalha em oito municípios da região. Tiveram também participação dois veterinários, representantes da Secretaria de Saúde de São José dos Campos.
O tema foi a febre amarela silvestre. A palestra foi muito esclarecedora. Os técnicos sabiam tudo do assunto e responderam às mais variadas perguntas. E, pensando em termos de SFX, o que ficou, no final, foi uma preocupação grande. Explico por quê.
A técnica atual permite ir mapeando os caminhos que a doença vai seguindo. E esse mapeamento indica que há vários caminhos, de diversos lados, chegando na região de São José dos Campos. Do leste, há três, um deles vindo de São Paulo, outro de Atibaia, outro um pouco mais para noroeste. Do norte há um, vindo do Sul de Minas. Outra vertente, um pouco mais distante, vem para o norte de Taubaté. Outra, não tão perto, está avançando pelo Vale; outra vem pelo Litoral.
Isso significa que São José dos Campos está praticamente cercada pelo avanço da febre amarela silvestre.
Na sexta-feira, confirmou-se o falecimento, por febre amarela, de um morador do Bairro São João, na região noroeste de SJC. Esse homem, saudável, de 40 anos, que trabalhava com corte de lenha, não foi vacinado, pois nas quatro vezes em que o serviço de vacinação foi à sua região ele não estava. Morreu em pouquíssimo tempo, em dois ou três dias. Ora, essa pessoa trabalhava no Turvo, bem perto, portanto, de SFX. Ali no São João, aliás, foram encontrados três bugios vitimados pela febre amarela silvestre.
Mas não foi só isso: ontem foram confirmados dois outros casos, de moradores da Vila São Geraldo e do Mirantes do Buquirinha, dois bairros da Zona Norte de SJC. Os dois reagiram bem à doença.
A febre amarela silvestre é transmitida por dois mosquitos que não vivem em ambiente urbano. Ela pode também ser transmitida pelo “mosquito da dengue”, o aedes aegypti, que vive nas cidades, mas ainda não foi passada para ele. O esforço de vacinação é também para conter o avanço da doença e evitar que passe para o aedes aegypti, pois, nesse caso, a febre amarela entraria nas cidades e atingiria um número muito maior de pessoas.
Portanto, quem se vacina não só se protege, mas também contribui para a contenção da difusão da doença.
A maior parte das pessoas que são contaminadas pela febre amarela não morre. Mas de 5% a 10% das pessoas desenvolvem a forma mais grave e vêm a óbito em poucos dias.
Muitos perguntam: Qual a probabilidade de se vir a morrer por tomar a vacina? Os estudos de hoje indicam que é de 1 caso para cada 700 mil ou mesmo um milhão de pessoas vacinadas. E qual a probabilidade, perguntei, de vir a morrer quem não se vacina e é contaminado pela doença? Resposta: 1 para cada 150 casos.
Ou seja, se você pegar a doença, sua probabilidade de morrer é muito — mas muito mesmo — mais alta do que a probabilidade de morrer se for vacinado.
Em SFX, a maioria da população já está vacinada. No município de São José dos Campos como um todo, 441 mil pessoas foram vacinadas agora, o que corresponde a cerca de 75% da meta. Além delas, outras 129 mil tomaram a vacina nos últimos dez anos antes desta campanha. Isso significa que a vacinação na cidade está bem perto do número de pessoas que podem ser vacinadas, que é calculado em 594 mil.
Mas, se a maior parte das pessoas de SFX já está vacinada, qual o problema de o vírus entrar com força no distrito? Bem, o problema é que temos muitas residências de segunda moradia. Só na região da APA estadual, na Serra dos Poncianos, são mais de 700 casas. E essas casas são frequentadas por pessoas que vêm de São Paulo ou de outras áreas urbanas e que podem não ter tomado a vacina. Se calcularmos uma média de 2 ou 3 pessoas por casa, nos feriados, teremos algo que vai de cerca de 1.400 a cerca de 2.100 pessoas. Será que essas pessoas, no caso de não se terem vacinado, estão cientes de que estão vindo para uma área com tal pressão da febre amarela? As pousadas já foram instruídas a orientar os seus hóspedes a que se vacinem, mas, além das pousadas, há os turistas de um dia, que, em princípio, podem também estar desavisados para o risco maior de uma área silvestre como SFX e da pressão maior da doença em SFX.
Além do risco pessoal para essas pessoas, elas podem, se contaminadas aqui, levar o vírus para a zona urbana em que moram.
E há ainda os macacos. Fomos informados que ainda não se registraram casos de febre amarela em muriquis. Mas aqui temos quatro outros primatas: o macaco-prego, o sagui-da-serra-escuro, o bugio e o sauá. Todos os bugios do Parque Horto Florestal, na Zona Norte da capital, num total de 86 indivíduos, morreram de outubro de 2017 a janeiro de 2018. No mesmo local, os macacos-prego e os saguis resistiram à doença. Ainda não se tem explicação para o fato de os bugios serem mais suscetíveis à doença.
De tudo isso, eu tiro uma conclusão pessoal: a de que devo avisar a todas as pessoas que conheço que vêm a SFX que só venham se estiverem vacinadas, porque SFX é, hoje, assim como os municípios circundantes, uma área de grande potencial de contaminação. Não vale a pena arriscar pegar a doença. De cada 150 pessoas que pegam a doença, em média uma vem a óbito. E não vale a pena arriscar levar a doença para sua zona urbana. Para vir, é preciso estar vacinado. E é preciso estar vacinado dez dias antes de vir, pois a vacina demora dez dias para fazer efeito.
A situação é séria, e não é à toa que tem havido tanta mobilização das autoridades públicas da área de saúde.
Escrito por Alberto Queiroz