Nas áreas urbanas ocorrem um pouco mais de 70% das emissões de dióxido de carbono do mundo, provocando o aquecimento global, provavelmente o maior desafio ambiental que o mundo enfrenta hoje.
Por outro lado, desde que erguidas em bases sustentáveis, as cidades podem ajudar a conter o aquecimento do planeta, Como?
Por meio de projetos de cidades mais compactas, através do estímulo à ocupação de áreas vazias, reduzindo os trajetos urbanos; reuso de água; maior uso de luminárias com lâmpadas LED na iluminação pública; tratamento de efluentes; aquecimento para poupar energia (mais incentivos à produção de energia solar); transporte público melhor, incitando as pessoas a usarem menos automóveis; obrigar por meio de leis para que os planos diretores das cidades tenham projetos de urbanização e edificações que adotem medidas de uso sustentável de energia; mais ciclovias e áreas de pedestres também reduzem as emissões de combustíveis fósseis, evitando dessa forma os efeitos mais nocivos do aquecimento global.
As cidades podem ser uma fonte de solução para os problemas climáticos, como no caso do bairro de 5 mil habitantes, Pedra Branca, no município de Palhoça, SC, próximo de Florianópolis. Ele é um dos 16 empreendimentos no mundo – e único no Brasil – já em implantação à alguns anos, escolhidos pela Fundação Bill Clinton, como exemplo de desenvolvimento urbano voltado para combater as mudanças climáticas.
É notório que as amplas áreas verdes urbanas – certamente os espaços mais democráticos da cidade – são reconhecidas por trazerem valiosas contribuições para o meio ambiente e para o bem-estar social no âmbito urbano. Elas são um elemento chave para a sustentabilidade urbana. Aqui enfocaremos as grandes áreas verdes urbanas e aquelas muito próximas, praticamente limítrofes com a urbe, que são as unidades de conservação (UCs) urbanas.Como exemplos dessa forte interação cidades-unidades de conservação do ponto de vista da visitação e educação ambiental (além da pesquisa e preservação da biodiversidade), temos o Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, o Parque Nacional de Brasília, a Estação Ecológica de Carijós e Reserva Extrativista Marinha de Pirajubaé, em Florianópolis, dezenas de parques estaduais como Pedra Branca, no Rio de Janeiro, Cantareira e Jaraguá na cidade de São Paulo, Parque Estadual das Dunas, em Natal, Parque Estadual dos Dois Irmãos, em Recife, além dos Parques Municipais como o rão mais as UCs urbanas como área de lazer e integração com a natureza.
Centenas de cidades brasileiras, grandes, médias e pequenas, mantém uma relação muito estreita com as UCs e vice versa. É preciso ir além de trabalhar em conjunto com as Prefeituras, a questão urbana nas zonas de amortecimento das UCs por meio de implantação de programas de alternativas econômicas sustentáveis, que levem em consideração a necessidade de proteger o entorno da UC. Além da insuficiência de recursos para infraestrutura básica e manutenção, as maiores ameaças e pressões – com exceção das APAs – vem de fora e não de dentro. O maior exemplo é a questão urbana, e não o desmatamento, principalmente na região sul-sudeste e zona costeira, onde se concentra a maior parte da população brasileira.
É imperativo que haja uma conexão entre o processo de elaboração ou revisão Plano de Manejo e do Plano Diretor, principal instrumento de planejamento participativo das UCs e das cidades, respectivamente.
Portanto, urge uma estratégia diferenciada para conservação da biodiverCidade. Em especial no que tange à política de ocupação do território que leve em consideração a zona de amortecimento das UCs e a integração entre as normas do zoneamento municipal estabelecidas no Plano Diretor e do zoneamento das APAs.
Devemos reconhecer o potencial que as cidades e suas UCs desempenham no combate às mudanças do clima, em especial quanto às modificações no atual padrão de consumo energético mundial e como atenuantes dos problemas socioambientais, favorecendo a qualidade de vida, pois na medida em que a população da Terra aumenta e nossas cidades crescem precisamos garantir que teremos os modelos para sustentar nosso modo de vida num mundo cada vez mais urbanizado.
Devemos lembrar que as UCs e suas cidades são instrumentos importantes para transformar as relações do homem com a natureza, no sentido de reconhecer nossas interações necessárias não somente à qualidade de vida nas cidades, mas à sobrevivência da humanidade como um todo.
*Miguel von Behr é analista ambiental do IC MBio-Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, na Área de Proteção Ambiental (APA) da Baleia Franca, litoral sul de Santa Catarina. Arquiteto e urbanista, Mestre em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade de Brasília. Desde 1982 trabalha com criação e implantação de unidades de conservação. Em 1997 foi Coordenador Técnico do Projeto “Planejamento Urbano e Unidades de Conservação”, pelo Ibama e em 2012 criou a Renuurb – Rede Nacional de Unidades de Conservação Urbanas.
28 de julho de 2014
Miguel von Behr*
Fonte: http://www.caupr.org.br/?p=10219&utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=mudancas-climaticas-o-que-as-cidades-e-suas-unidades-de-conservacao-tem-a-ver-com-isso