O rumo atual e a perda da biodiversidade no Brasil
Liszt Vieira - 15/09/14
Tamanha biodiversidade reforça a importância das políticas orientadas para a conservação e o uso sustentável dos biomas, já que 60% das espécies ameaçadas de extinção estão em territórios protegidos, e aproximadamente 75% das áreas federais de conservação abrigam tais populações. A perspectiva é a conservação e uso sustentável de biodiversidade e florestas frente às ameaças representadas pelos efeitos das mudanças climáticas e pela exploração excessiva dos recursos naturais.
A freada na criação de UCs
"Entre
2003 e 2008, de todas as áreas protegidas no mundo, 75% foram criadas
no Brasil durante a gestão da ex-ministra Marina Silva. No atual
governo, nenhuma foi criada."
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Além dessas unidades de conservação, as Terras Indígenas - que pertencem à União e representam aproximadamente 13% do território brasileiro - e os territórios quilombolas também são considerados áreas protegidas. A rica sociodiversidade, representada por mais de duzentos povos indígenas e comunidades locais (quilombolas, caiçaras, seringueiros etc.), reúne inestimável acervo de conhecimentos tradicionais sobre a conservação e o uso da biodiversidade.
As Unidades de Conservação (parques nacionais e estaduais) e as Terras Indígenas vêm sendo criticadas, principalmente pelo agronegócio, por serem protegidas e estarem fora do mercado. Existem cerca de 400 projetos no Congresso Nacional propondo a "desafetação", isto é, a retirada de áreas importantes dessas terras protegidas.
No Brasil, as Unidades de Conservação têm sido criticadas por, muitas vezes, não saírem do papel, havendo inúmeras lacunas e fragilidades, tais como regularização fundiária pendente, falta de funcionários e infraestrutura básica, falta de revisão ou ausência de plano de manejo, dentre outros problemas. Um exemplo de que nem sempre o problema é a falta de recursos é o que ocorre na Câmara Federal de Compensação Ambiental, cujo funcionamento burocrático dificulta e às vezes impede a aplicação de verbas para projetos em prol das unidades de conservação.
A definição de áreas prioritárias para conservação, utilização sustentável e repartição de benefícios da biodiversidade é uma importante ferramenta desenvolvida para o planejamento e gestão territorial, permitindo identificar áreas e ações prioritárias, com base em critérios específicos estabelecidos para cada bioma: 26,6% das áreas prioritárias localizam-se no bioma Amazônia, 21,6% na Mata Atlântica, 18,9% na Zona Costeira, 15,7% no Cerrado, 8,9% na Caatinga, 2,8% do Pampa e 1,9% do Pantanal.
Entre 2003 e 2008, de todas as áreas protegidas no mundo, 75% foram criadas no Brasil durante a gestão da ex-ministra Marina Silva. No atual governo, nenhuma foi criada.
No que se refere à cobertura florestal, na última década houve uma redução dos índices de desmatamento no território nacional. A Amazônia, que já perdeu 14,6% de sua cobertura original, teve redução significativa de desmatamento até 2012. Em 2013, porém, observou-se um aumento do desmatamento estimado inicialmente em 28%, e posteriormente confirmado em 29%, conforme mostram as Figuras abaixo.
"São
2.118 espécies ameaçadas, um aumento considerável em relação à contagem
anterior. Essa informação não foi oficializada pelo Ministério do Meio
Ambiente, provavelmente por razões políticas."
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No que se refere à Mata Atlântica, estudo do INPE e do SOS Mata Atlântica, divulgado em maio de 2014, sobre o desmatamento no período de 2012 a 2013, revela um aumento de 9% em relação ao período anterior (2011-2012).
Assim, o desmatamento, que vinha caindo, recrudesceu nos últimos dois anos, principalmente em relação à Amazônia e Mata Atlântica. Isso significa enorme perda de biodiversidade, com destruição de espécies vegetais e animais, muitas ainda desconhecidas. E um grande prejuízo econômico e social para o país.
Após anos de pesquisa, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro lançou no primeiro semestre de 2013 o livro vermelho das espécies ameaçadas de extinção da flora brasileira. Das cerca de 44.000 espécies descritas, pouco mais de 6.000 foram avaliadas em relação ao risco de extinção, ou seja, 13,6% da diversidade de plantas. São 2.118 espécies ameaçadas, um aumento considerável em relação à contagem anterior. Essa informação não foi oficializada pelo Ministério do Meio Ambiente, provavelmente por razões políticas.
Da mesma forma, as espécies ameaçadas da fauna brasileira ainda não têm números definitivos. Oficialmente, segundo dados de 2008, são 627 espécies da fauna avaliadas como ameaçadas de extinção. Das 120.000 espécies no Brasil, (8.200 espécies de vertebrados e mais de 100.000 espécies de invertebrados),a meta do ICMBio é avaliar o risco de extinção de 10.000 espécies até o final deste ano, ou seja, pouco mais de 8% da diversidade total de animais.
O modelo econômico dominante prioriza o crescimento visto em termos quantitativos, como aumento do PIB, por exemplo, em detrimento da qualidade de vida da população. O desenvolvimentismo, hoje no poder, considera o meio ambiente como entrave ao crescimento. Essa mentalidade anacrônica e predatória está por trás da destruição da rica biodiversidade brasileira. O capitalismo selvagem não quer admitir que a floresta em pé vale mais do que abatida.
Mas os riscos dramáticos das mudanças climáticas e da perda da biodiversidade – secas, inundações, desertificação, elevação do nível dos oceanos e acidificação, refugiados ambientais, falta de água e alimentos, etc. – alertaram o mundo quanto aos efeitos nocivos da sobre-exploração dos recursos naturais e da emissão de gases-estufa, abrindo espaço para os novos caminhos da sustentabilidade ambiental.
http://www.oeco.org.br/convidados/28642-o-rumo-atual-e-a-perda-da-biodiversidade-no-brasil