Rio Paraíba do Sul e Serra da Mantiqueira, Resende-RJ (Luis Felipe Cesar)
Existem muitas definições de montanhas. Uma das mais
abrangentes é adotada pela Convenção da Diversidade Biológica: "As
montanhas são caracterizados por distintos valores abióticos, bióticos,
sociais, culturais, econômicos e espirituais. Estruturalmente, estas áreas
tendem a ter uma combinação das seguintes características físicas e biológicas:
altitude ou declividade do terreno, climas diversificados, uma composição
relativamente alta de espécies endêmicas e espécies nativas, e graus de
fragilidade e isolamento. Funcionalmente, as montanhas são as torres de
água do mundo e podem servir como refúgio para muitas populações. Regiões
de montanha também tendem a ser essenciais para as comunidades de terras baixas
que dependem do fornecimento de bens e de serviços, como água, energia,
alimentos, madeira, animais selvagens, lazer e valores espirituais".
O Brasil não se destaca internacionalmente como um
país de montanhas e nem se reconhece como tal. No entanto, as montanhas que existem
em seu território constituem espaços de alto valor para a proteção de
ecossistemas, promoção do turismo e regulação climática, além de outros
atributos, inclusive sociais e culturais.
Dentre tantos benefícios para a sociedade, as
montanhas também possuem a capacidade de captar água da atmosfera e, por meio
de suas nascentes, córregos e rios, abastecer as populações das cidades
localizadas em áreas mais baixas. Essa virtude, no entanto, relaciona-se
diretamente com a integridade da vegetação nativa das montanhas. As florestas e os
campos de altitude característicos das áreas mais elevadas do Brasil são
fundamentais para garantir o armazenamento da água das chuvas e, juntamente com
o sub-bosque e o solo preservados, alimentar de forma continuada brejos e nascentes
componentes da malha hídrica, com seus córregos, rios e lagos.
Mas a função das árvores vai além. No caso das matas
nebulares, elas são capazes de captar o vapor da neblina, condensa-lo e
transferir a água para o solo. Estudos realizados
na Costa Rica sugerem que a captação de água da neblina pelas árvores pode
contribuir com até 30% do volume dos rios de uma região.
O projeto "Mudanças Climáticas em Montanhas Brasileiras:
Respostas funcionais de plantas nativas de campos rupestres e campos de
altitude a secas extrema", apoiado pela Fapesp e coordenado por Rafael Silva Oliveira – IB/Unicamp, realizado
no Parque Estadual de Campos do Jordão, comprova a importância das florestas de
altitude no abastecimento dos muitos mananciais formares dos rios
que abastecem as cidades localizadas mais abaixo.
O regime das chuvas é complexo e envolve muitas
variáveis, mas a proteção dos ecossistemas de montanha é uma das ações
fundamentais para garantir a perenidade dos grandes rios. No caso das serras da
Mantiqueira e da Bocaina, aprimorar a gestão de seus mosaicos de áreas
protegidas beneficia diretamente a milhões de pessoas que utilizam as águas do
rio Paraíba do Sul.
LF Cesar
http://ambienteregionalagulhasnegras.blogspot.com.br/2014/09/montanhas-florestas-agua-e-cidades.html