A Prefeitura de São José dos Campos promove o 2º Festival Regional de Vídeos Ambientais, com o tema “A natureza “pede água”. O lançamento do festival será nesta quinta-feira (25), às 19h30, no auditório do SESC São José dos Campos (Avenida Dr. Adhemar de Barros, 999, Vila Adyana). O evento faz parte da Semana do Meio Ambiente 2015.
O evento de lançamento terá a exibição dos vídeos ganhadores da 1ª edição, ocorrida em 2011, e um bate-papo sobre a produção de vídeos socioambientais, com a participação de autores e educadores entre eles o jornalista Rogério Corrêa, da TV Vanguarda.
O Festival de Vídeos Ambientais, coordenado pela Secretaria de Meio Ambiente, tem como objetivo incentivar a produção audiovisual e ser um canal de difusão de curtas que sensibilizem a sociedade sobre a importância do Meio Ambiente, em especial atenção ao recurso natural “Água”, sobretudo diante do cenário de escassez hídrica vivido na atualidade.
A 2ª edição do festival vai divulgar, exibir e premiar obras audiovisuais de até 5 minutos, nos gêneros ficção, animação ou documental produzidos no Vale do Paraíba, Litoral norte, Serra da Mantiqueira e região.
A competição tem duas categorias de premiação. A categoria vídeo estudantil é destinada a alunos do ensino fundamental ou médio de escolas públicas ou privadas e a categoria videomaker é voltada ao público em geral, amadores, profissionais ou estudantes da área de audiovisual, jornalismo e outros. Haverá ainda uma categoria paralela de voto popular, elegendo o vídeo mais curtido pelos internautas.
As inscrições dos vídeos participantes poderão ser feitas a partir desta sexta-feira (26) até o dia 25 de setembro. Os vídeos serão publicados em um canal do youtube e os melhores farão parte da cerimônia de exibição, prevista para outubro.
O festival contará com um júri para avaliar critérios técnicos, artísticos e afinidade com o tema proposto. Os primeiros lugares da categoria vídeo estudantil e videomaker terão como premiação uma filmadora. Já os segundos e terceiros lugares, e o vídeo escolhido no voto popular, receberão troféus.
Mais informações sobre o festival e a ficha para inscrição do vídeo estão disponíveis na página da Prefeitura
Corredor Ecológico do Vale prioriza recuperação da bacia do Rio do Peixe em São José
Área da bacia do Rio do Peixe, na zona norte de São José. Foto: José Luciano Penido
Outras áreas degradadas da RMVale vão ser reflorestadas com o objetivo de aumentar a produção de água e preservar nascentes
Xandu AlvesSão José dos Campos A bacia do Rio do Peixe, na região norte de São José, entrou no radar de organismos governamentais e da sociedade civil como prioridade para a recuperação ambiental. A meta é investir no verde para colher azul. Ou seja, reflorestar áreas degradadas na região para aumentar a produção de água, além de preservar nascentes e lençóis freáticos. “Não há azul sem verde”, resume José Luciano Penido, presidente do conselho do Corredor Ecológico do Vale do Paraíba e do Conselho de Administração da Fibria. A entidade quer reconectar 150 mil hectares da Mata Atlântica ligando áreas florestais isoladas. Não basta plantar florestas novas, diz Penido, sem uní-las a outras por meio de um imenso corredor verde.
Produtor. Para alcançar a meta, o Corredor Ecológico do Vale visa recuperar primeiro 6.000 hectares pelos próximos 15 anos, com prioridade para a bacia do rio do Peixe, que é afluente do rio Jaguari. E ambos alimentam a represa Jaguari e a bacia do rio Paraíba do Sul, da qual o Estado quer tirar água para abastecer a Grande São Paulo. “É área prioritária para o Corredor Ecológico por que ali passam uma das linhas de conexão, previstas em nosso estudo”, afirma Penido. A ideia do grupo é não fazer nada isolado. Primeiro levantar as áreas degradadas e depois planejar o plantio (tipo de muda nativa, custo e procedimento) e integrar o meio rural no processo. “Temos o objetivo de envolver a comunidade do entorno com ações de educação ambiental, focando na ampliação do entendimento da importância da floresta de pé e seus benefícios diretos e indiretos.” A conta que ele faz para o projeto andar é de R$ 10 mil a R$ 34 mil por hectare, incluindo gastos com mudas, plantio, manutenção e ações socioculturais na comunidade. Para se recuperar área totalmente degradada, segundo Penido, considera-se o plantio de até 1.700 mudas por hectare.
Degradação. Na região, segundo avaliação do Corredor Ecológico, as áreas com maior grau de degradação são várzea do rio Paraíba (pela expansão urbana e industrial constante), eixo de ligação entre Rio de Janeiro e São Paulo e locais de atividades mineradoras, que se estendem em todo o Vale. Penido acrescenta a bacia do rio do Peixe. “Ainda existem grandes fragmentos de florestas nas áreas altas, mas o restante da bacia encontra-se praticamente degradada, por pastagem produtiva, e abandonada.”
CORREDORCorredor Ecológico quer recuperar 150 mil hectares de floresta na bacia do rio Paraíba
PRIORIDADE Recuperar 6.000 hectares pelos próximos 15 anos, incluindo a bacia do rio do Peixe
CUSTO Varia entre R$ 10 mil a R$ 34 mil o hectare, dependendo do estado de degradação e área
ÁRVORESEspécies florestais nativas de ocorrência regional, como embaúba, palmeira juçara, quaresmeira, araçá, pitanga, cambuci, candeia, uvaia e sangra-d’água
ESTADO Restaurar 371 hectares de matas ciliares na bacia do rio Paraíba do Sul, com 618.983 mudas de 80 espécies nativas
MUNICÍPIO São José lançará até julho o 2° edital do programa ‘Mais Água’, para remunerar produtores rurais da zona norte que preservem áreas de mata
DÉFICIT Faltam 583,07 mil hectares de cobertura de vegetal em toda a bacia do rio Paraíba do Sul
A Cartilha - Lei dos Crimes Ambientais é uma obra técnica com linguagem infanto/juvenil, que tem como objetivo a educação ambiental nas comunidades, em especial junto às escolas de ensino fundamental.
Pela qualidade, repercussão e importância do material, a Ouvidoria recebeu a Medalha Mérito Ambiental, da Academia Brasileira de Estudo Ecológicos e Meio Ambiente - A.B.E.E.M.A.
Clique no link para realizar o download da Cartilha.
Abertas as inscrições para Vagas Remanescentes dos três cursos abaixo descritos, que serão ofertados gratuitamente no Polo Municipal de Apoio Presencial UAB – São José dos Campos, por meio da parceria entre a Prefeitura e a Universidade Virtual do Estado de São Paulo.
1-Processo Seletivo para vagas remanescentes:
Cursos de Graduação em Engenharia de Computação, Engenharia de Produção e Licenciatura em Ciências Naturais e Matemática
Tipo de Curso: Graduação
Universidade: UNIVESP – Universidade Virtual do Estado de São Paulo
Período de inscrição: até o dia 30 de junho de 2015
Espécie invasora que se espalhou pelo
Brasil, o javali se adaptou às plantações de cana-de-açúcar e de eucalipto do
interior paulista e tem causado grandes prejuízos aos setores que produzem
etanol, papel e celulose. Mas se esse desequilíbrio ecológico põe em risco as
principais atividades agrícolas da região pode ser, paradoxalmente,
oportunidade para a recuperação da onça-pintada - maior predador das Américas,
hoje ameaçado de extinção.
A previsão foi resultado de pesquisa
coordenada por Luciano Verdade, professor do Centro de Energia Nuclear na
Agricultura (Cena), da Universidade de São Paulo (USP), em Piracicaba. Segundo
o trabalho, submetido para publicação na revista Animal Conservation, a
transformação de pastagens em canaviais e florestas de eucaliptos favoreceu a
explosão do número de javalis nessas áreas.
O estudo prevê que a abundância da
espécie invasora atrairá de volta ao interior a onça-pintada, que em São Paulo
está confinada à faixa litorânea de Mata Atlântica e ao Parque Estadual do
Morro do Diabo, no extremo oeste do Estado. Isso significa que a onça-pintada
poderá ser salva pelo mesmo fator responsável por seu declínio: as atividades
agropecuárias.
"A distribuição do javali é maior
a cada dia nas paisagens agrícolas que predominam no interior, canaviais e
florestas de eucaliptos, enquanto as onças estão nas bordas, a leste e a oeste.
Essa combinação espacial indica grande potencial de colonização dessas
paisagens pelas onças-pintadas", disse Verdade. Segundo ele, em breve, as
onças vão detectar os javalis e começarão a aparecer nas plantações.
Caso a previsão se concretize, o setor
produtivo e os gestores públicos terão de aprender a lidar com o manejo da
onça. "É muito bom que aconteça o retorno da onça-pintada, em vez de sua
extinção. Mas há um custo e um risco eventual que precisam ser previstos."
O pesquisador prevê que serão
necessárias pessoas capacitadas para gerenciar a onça-pintada na paisagem
agrícola. Mais que isso, será preciso gerar conhecimento e inovação
tecnológica. "Precisamos ser proativos, em vez de reativos. O primeiro
passo é alertar que essa é a possibilidade real, para que a sociedade discuta a
questão."
Embora a presença da onça-pintada possa
parecer assustadora para quem está próximo das áreas agrícolas, cientistas afirmam
que seu manejo adequado trará benefícios ecológicos, cujos frutos podem ser
vantajosos para o setor. O mais evidente deles será limitar o alastramento dos
javalis.
Invasor
Agressivo, de fácil adaptação e quase
sem predadores, o javali está na lista das cem piores espécies exóticas
invasoras do mundo, elaborada pela União Internacional para Conservação da
Natureza (IUCN). Considerado praga, invadiu o Brasil a partir do Uruguai, no
fim dos anos 1980.
Segundo o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), já foram registrados
javalis no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Bahia, Acre e Rondônia. O problema é tão
grave que, em 2013, o Ibama autorizou a caça do animal para manejo controlado.
O javali, com cerca de 1,30 metro de
comprimento e 80 kg, pode chegar a 250 kg quando miscigenado a porcos
domésticos. Segundo Verdade, pode causar danos até mesmo no ambiente natural,
pois costuma pisotear plântulas de árvores nativas, comer ovos de muitas aves,
acelerar o processo de erosão e transmitir doenças.
"Ele come tudo e causa prejuízos
nas plantações. É provável que só a onça-pintada seja capaz de abater um javali
adulto", disse. "Mesmo havendo caça legal e ilegal, não é suficiente
para controlar essa espécie."
O Instituto Oikos (www.institutooikos.org.br) convida a todos a acessar o Portal PSA Vale do Paraíba.
O Portal PSA Vale do Paraíba foi criado com o objetivo de tornar disponível aos interessados grande parte da informação utilizada nos estudos que conduziram à criação do Programa PSA Água Vale do Paraíba, que contou com financiamento do Fehidro – Fundo Estadual de Recursos Hídricos, do Instituto Oikos e de ONG parceira.
O portal utiliza tecnologia Esri, o principal nome em softwares de SIG do mundo. Esta tecnologia objetiva aprimorar a experiência de navegação do usuário em um ambiente georrefereciado tornando os dados acessíveis e permeando diferentes níveis de consumidores de Geoinformação.
No portal estão disponíveis diferentes temas de análise espacial em ambiente amigável e auto explicativo. São informações geográficas como dados de uso e cobertura da terra, vegetação, perfis topográficos, mapas de meio físico e mapas da situação socioeconômica do trecho paulista da Bacia do Paraíba do Sul – UGRHI 02.
Dentre as funcionalidades disponíveis estão a visualização das camadas, realização de análises, avaliações, possibilidade de interagir com os dados a partir do cruzamento das informações, entre outras. Isso pode ser feito para cada município da região e também para as 34 bacias de manancial de abastecimento público, caracterizadas pelo Programa PSA Vale do Paraíba.
Com isso, é possível realizar uma primeira caracterização de sua área de interesse para fins de planejamento para conservação das águas, solos e florestas.
É possível também fazer downloads de documentos e imprimir mapas com os recortes de áreas específicas.
A “Semana de Educação Ambiental - Nascentes do Paraíba” foi instituída na Estância Climática de Cunha, para ser realizada, anualmente, na semana consoante ao “Dia da Nascente do Rio Paraibuna”, comemorado dia 23 de junho.
A V Semana de Educação Ambiental - Nascentes do Paraíba tem como objetivo:
Contribuir para organização da comunidade e enfrentamento da crise hídrica.
Apresentar o “Programa Nascentes”, da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo; o projeto “Nascente Pedagógica”, do Movimento Nascentes do Paraíba e; projetos de educação ambiental para preservação e recuperação de nascentes;
Realizar oficina de projetos, para restauração ecológica de Áreas de Preservação Permanente - APP e Cadastramento Ambiental Rural - CAR;
Orientar a comunidade para participação na gestão dos recursos hídricos, através do CEIVAP, CBH-PS e Comitê das Águas nos Municípios.
Planejar a realização da V Conferência de Educação Ambiental - Nascentes do Paraíba.
Comemorar o Dia da Nascente do Rio Paraibuna - 23 de junho.
As atividades terão momentos de explanação de conteúdos, esclarecimentos e coleta de sugestões do público, para planejamento da V Conferência de Educação Ambiental.
As inscrições são gratuitas e a participação aberta ao público em geral.
Pela primeira vez o banco financia diretamente uma associação indígena
A Associação Apiwtxa, que representa o povo Ashaninka da Terra Indígena (TI) Kampa do Rio Amônia, situada no Alto Juruá, conseguiu um feito histórico: foi a primeira associação indígena do Brasil a aprovar um projeto no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no valor de R$ 6,6 milhões, cujo objetivo é a proteção da floresta e o desenvolvimento sustentável de uma região de mais de 600 mil hectares no Acre.
O contrato foi assinado no final de abril em Brasília, com a presença da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. Segundo Francisco Piyãko, que representou a Apiwtxa na assinatura do contrato, a aprovação dará suporte financeiro e potencializará um trabalho que já vem sendo feito há décadas pelos Ashaninkas de gestão territorial, desenvolvimento sustentável e proteção da floresta na região fronteiriça.
O projeto que começa a ser executado a partir de agora vai durar três anos e irá fortalecer, além das comunidades indígenas da TI do Rio Amônia e da TI Kaxinawá-Ashaninka do Rio Breu, 50 comunidades da Reserva Extrativista do Alto Juruá (REAJ), com cerca de 12 mil pessoas diretamente beneficiadas, sendo 1,5 mil indígenas.
Os recursos para o projeto são do Fundo Amazônia, criado em 2008 com objetivo de captar recursos para investimentos não reembolsáveis em ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento, promoção da conservação e do uso sustentável da Floresta Amazônica. O fundo tem vários doadores, com destaque para a Noruega, país que mais tem destinado recursos para ele.
Para Piãnko, o projeto é de grande importância para o Acre e para a Amazônia. A comunidade Ashaninka tem uma tradição de trabalhar pela proteção da floresta, dos rios, da cultura e dos conhecimentos tradicionais. “Tivemos embates fortes no sentido de enfrentar madeireiros e temos debatido os grandes empreendimentos para que eles não coloquem em risco as nossas comunidades” – disse.
O projeto inclui demandas de comunidades não-indígenas da região, que também carecem de apoio para se fortalecerem e fazerem a gestão de seu território. Segundo Piãnko isso é uma coisa nova – fato reconhecido pelo próprio banco – de a gente atuar não de maneira isolada, mas pensar na sustentabilidade e na proteção da floresta como um todo.
“Até algum tempo atrás, era impossível sonhar com isso e hoje é uma realidade; o banco fazer um contrato direto com uma comunidade indígena, chegando direto na floresta. Isso é muito simbólico e a repercussão do que a gente está fazendo é muito grande no Brasil inteiro. Várias pessoas quiseram saber mais desse projeto” – contou.
Quando o contrato foi assinado, o próprio banco destacou o fato e isso soou muito bem para os doadores do Fundo Amazônia. Outro fato importante foi que banco não mudou suas regras por ser o proponente uma associação indígena. “Assinamos um contrato cumprindo com todos os requisitos, todas as cláusulas, de qualquer outro proponente, dentro das regras do financiamento do banco. Nós é que nos organizamos, preparamos e conseguimos cumprir com aquilo que cabe a nós como instituição, respeitando os trâmites legais para poder cumprir com nosso contrato. Não é porque o proponente é uma associação indígena que o projeto pode ser feito de qualquer jeito. As metas a serem cumpridas são muito claras; os objetivos e os compromissos serão trabalhados de uma maneira bem transparente de acordo com o que está estabelecido no contrato” – salientou.
Centro Yorenka Âtame (CYÃ)
Para a execução do projeto, a Apiwtxa tem uma vasta experiência e neste contexto o Centro Yorenka Âtame (CYÃ), que significa saberes da floresta, assume uma importância fundamental. Ele é um espaço, situado no município de Marechal Thaumaturgo, sonhado e tornado realidade pelos Ashaninkas.
Quando foi demarcada a TI Kampa do Rio Amônia em 1992, os Ashaninkas tinham uma política muito voltada a se organizar internamente para se proteger e se fortalecer. Isso foi realizado, o povo se organizou, foi feito um trabalho de recuperação de áreas. “A história é bonita – conta Piãnko – com resultados concretos como a recuperação dos quelônios, da caça, do peixe, das florestas e com muitos plantios”.
Na TI foi feita uma escola com um modelo bem diferente, com um processo de sistematização, de registro, fortalecendo os modos tradicionais e a relação com a floresta, de modo a que a tradição não se perdesse e esse era um dos seus conteúdos mais fortes. Chegou um certo momento, porém, que os Ashaninkas perceberam que tinham que começar a pensar no entorno. “Não adiantava fazer um muro, fechar nossa terra com a gente mesmo e ficar tudo bonitinho, enquanto ali ao lado as coisas continuavam do mesmo jeito. Foi então que decidimos expandir nossa experiência dialogar com os vizinhos” – explana Piãnko.
A comunidade Ashaninka começava a ter problemas, pois muitas pessoas, muitas instituições passaram a procurá-la para conhecer seus trabalhos, seus conhecimentos e este fluxo já estava começando a interferir em seu dia a dia. “Todo dia era gente aparecendo e tínhamos que mostrar nosso trabalho, falar dos nossos projetos” – conta.
Foi então que surgiu a ideia de criar um espaço na sede municipal de Marechal Thaumaturgo. A comunidade indígena foi em busca de parceiros e conseguiu adquirir 100 hectares de terra, em frente à cidade, no outro lado do Rio Juruá.
Na hora de colocar o nome no centro, mais uma vez a sabedoria Ashaninka se fez presente. Se colocassem o nome Centro Ashaninka ficaria parecendo que era um centro de saberes Ashaninka e isso eles não queriam. “Fomos além disso. Queríamos que os Ashaninka fossem mais um ali dentro, com seus conhecimentos e seus saberes, mas incluindo os saberes dos ribeirinhos, dos extrativistas, dos outros povos indígenas, ou seja, da população tradicional da região e inclusive da população urbana do município – explica”.
No local foi criada uma estrutura física, com alojamentos, salas de aula, auditório, refeitório. Inaugurado em 2007, o CYÃ virou um projeto demonstrativo. Tudo o que era feito na aldeia foi transferido para ele, agregando ainda o conhecimento da região, transformando-o num centro de referência dos saberes da floresta de modo que todas aquelas pessoas que procuravam conhecer o trabalho executado na aldeia eram encaminhadas para lá.
Hoje o CYÃ é um lugar muito importante, riquíssimo, devido á recuperação realizada. Onde havia apenas capim, resultado da criação de gado, hoje há uma floresta com muitos plantios e um grande sistema agroflorestal (SAF).
Na atualidade estão sendo feitos alguns ajustes para melhor utilizar aquele espaço. Piãnko conta que além dos debates, das rodas de conversa sobre os saberes da floresta, também se pensa na gestão territorial, na diversidade cultural e se discute como dialogar com o poder público local, estadual, federal, dentro do ponto de vista de fazer com que aquilo seja bem utilizado, sempre trilhando um único caminho que é o respeito à diversidade cultural, respeito aos conhecimentos tradicionais, respeito ao meio ambiente e o uso sustentável dos recursos.
“A orientação é passar para o cidadão uma noção de valores, destacando esse patrimônio que, às vezes, não é tratado com o cuidado necessário e finda se perdendo no meio da influência que é trazida de fora e fala mais alto que a base local”.
O projeto aprovado junto ao BNDES terá no CYÃ uma âncora importante e o trabalho já realizado no centro será potencializado.
Componentes do projeto
O projeto é composto por três componentes nos quais se propõe que, com base nas experiências da Apiwtxa, se promovam esforços para além das fronteiras da TI Kampa do Rio Amônia, apresentando aos demais povos da floresta meios alternativos para o seu desenvolvimento sustentável e preservação do território comum.
Os três componentes são: 1 – Assessoramento, capacitação e implantação de sistemas agroflorestais; 2 – Apoio à gestão territorial e ambiental nas comunidades indígenas e tradicionais do Alto Juruá; 3 – Desenvolvimento institucional da organização comunitária.
1º componente
O primeiro componente reúne atividades para consolidar e expandir a produção agroflorestal com ações que elevem sua atratividade econômica. As principais metas são: estabelecimento de SAFS em cerca de 100 hectares nas TIs do Rio Amônia e do Rio Breu e na REAJ. O projeto destina recursos para a construção de um viveiro e de um banco de sementes para produção de mudas de espécies madeireiras nativas e frutíferas a serem utilizadas nos SAFS.
A Apiwtxa contou com o apoio da Universidade Federal do Acre para definição da estrutura adequada. A instalação do viveiro é simples, mas o banco de sementes demandará a construção de uma sala climatizada com equipamentos para receber, secar, limpar e armazenar com segurança as sementes até a época do plantio. Para a implantação dos SAFS pelo público final as espécies poderão ser levadas ainda sementes, em que as comunidades produzirão as mudas em canteiros locais ou já as próprias mudas, transportadas em barcos para levar até 3.000 unidades. A Apiwtxa tem experiência com esta atividade e sente-se confortável em trabalhar com ambas as opções.
O projeto contempla um programa de capacitação em agroecologia e em boas práticas de manejo para comercialização. A formação em agroecologia será destinada a 90 moradores da REAJ. A capacitação em boas práticas tem previsão de participação de 10 índios e 50 não-índios, um por comunidade, os quais serão incentivados a atuar como multiplicadores em suas comunidades. Ambos os cursos serão realizados no CYÃ.
O primeiro componente ainda terá recursos para elaboração e implementação de plano de manejo e coleta de sementes florestais nativas abrangendo áreas onde existam matrizes de espécies valorizadas como o mogno na TI do Rio Amônia. Também estão previstos recursos de apoio ao registro de certificação da Cooperativa Ayõpare, também ligada à Apiwtxa, de forma a integrar o Sistema Nacional de Sementes e Mudas, visando garantir a legalidade da exploração das sementes.
O Projeto prevê ainda itens que complementam a instalação de agroindústria de polpa de frutas no CYÃ, que está sendo construída com recursos de outro projeto. Para apoiar as comunidades no escoamento de frutas in natura para a agroindústria e na distribuição da polpa de fruta produzida, o projeto conta com recursos para a instalação de pequenas unidades de armazenamento em três localidades estratégicas: uma na aldeia Apiwtxa e duas na REAJ, com a construção dos espaços e instalação de placas solares e aquisição de freezers.
Com o amadurecimento do empreendimento e da escala de produção, ao final do projeto está prevista a aquisição de um barco com capacidade de seis toneladas para escoamento da polpa produzida para Cruzeiro do Sul.
Componente 2
As ações deste componente baseiam-se na estratégia de educação ambiental e vigilância participativa, em que índios e não-índios são nomeados e capacitados para monitorar os territórios, orientar as comunidades e promover discussões locais. Para apoio às ações de vigilância serão construídas bases de monitoramento em três locais estratégicos na TI do Rio Amônia, duas delas bem próximos à fronteira com o Peru. Famílias Ashaninkas farão rondas bimestrais para identificação de suspeitas de invasão, ocupando temporariamente as bases por cerca de 15 dias e revezando-se na vigilância, sem prejuízo para suas atividades cotidianas.
Para a proteção de seu território, a Apiwtxa também fará a articulação transfronteiriça para a sensibilização das comunidades Ashaninkas do Peru, que se encontram extremamente pressionadas por empreendimentos madeireiros. Para potencializar este intercâmbio serão promovidos três encontros (um por ano) e ao final do último ano será realizado um seminário, com participação de lideranças de comunidades vizinhas indígenas e não indígenas e convidados de instituições públicas relacionadas, visando fortalecer a agenda transfronteiriça, com discussão de resultados e aprendizagem alcançados e proposições de parcerias e políticas públicas para a região.
Componente 3
As atividades deste componente visam a organização social das comunidades envolvidas no projeto. Para iniciar, a Apiwtxa conduzirá um planejamento estratégico com definição da missão, visão e linhas estratégicas de atuação tendo como base o PGTA da TI do Rio Amônia. Em seguida, a proposta é a realização de encontro com os demais envolvidos no projeto (REAJ e TI do Rio Breu) para a construção de um plano de ação.
Para apoio à estruturação física, o projeto contempla a construção de uma nova sede integrada para a Apiwtxa e Coooperativa Ayõpare, com instalações para escritório e acomodação de técnicos em trânsito, em Cruzeiro do Sul. Em benefício da Associação dos Seringueiros e Agroextrativistas da Reserva Extrativista do Alto Juruá (Asareaj), o projeto contempla recursos para a elaboração de um planejamento estratégico e construção de uma sede com aquisição de equipamentos básicos, inclusive um barco. A TI do Rio Breu terá apoio para a formação de lideranças para o trabalho de gestão ambiental e territorial, além de aquisição de dois barcos, um para cada uma das etnias dessa TI.
Por fim, está previsto no orçamento o desenvolvimento da comunicação institucional da Apiwtxa, atendendo às necessidades do projeto e da divulgação para a comercialização da produção agroflorestal. Os serviços a serem contratados envolvem a assessoria e capacitação de equipe da própria Apiwtxa, o desenvolvimento de marca, criação do site e produção de material de comunicação.
Quem são os Ashaninkas
Os Ashaninkas, conhecidos durante muito tempo na literatura etnográfica como Kampas, pertencem ao tronco etnolingüístico Arawak. Com uma população em torno de 100 mil indivíduos, eles são um dos povos indígenas mais numerosos da região amazônica, sendo o principal grupo indígena da Amazônia peruana. No Acre são cerca de dois mil indivíduos. O território Ashaninka estende-se por uma vasta região, do piemonte dos Andes centrais no Peru à bacia do Alto Juruá no Acre.