terça-feira, 14 de abril de 2015

João Pedro Stédile: o veneno no tomate, no abacaxi e até na pinga



Para líder do MST, o país precisa fazer um trabalho civilizatório de alerta à população sobre os perigos à saúde causados pelo agronegócio. 'Estão tendo lucro a peso de vidas humanas'
por Paulo Donizetti de Souza publicado 09/03/2015 11:55, última modificação 31/03/2015 15:13
© CIDADEABERTA.ORG
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Busca por lucro a qualquer custo aumenta níveis envenenamento por agrotóxico dos alimentos produzidos pela agroindústria

Nos 30 anos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, um de seus coordenadores nacionais, o economista João Pedro Stédile, não vê mais como prosperar, no Brasil, a luta pela reforma agrária tal como conhecida nos primórdios do MST. Ele observa que no senso comum das pessoas trata-se de repartir o latifúndio e entregar para os sem-terra. “E é isso mesmo, na essência, romper com a grande propriedade. Porém, os projetos de reforma agraria, feitos pelo governo com os instrumentos do Estado, só se viabilizaram, no passado, porque eram política combinada com um projeto de desenvolvimento nacional que objetivava desenvolver a indústria para o mercado interno”, diz.
O movimento, no entanto, avalia que a questão agrária não pode se resumir ao objetivo de proporcionar trabalho para segura as pessoas no campo. “A reforma agrária não é apenas resolver um problema de trabalho. Tem de ser para resolver o problema do veneno, da alimentação sadia. De garantir um futuro, de fazer uma agricultura que respeite o meio ambiente, que respeite a biodiversidade”, explica. Enfim, tem ser base de um novo modelo de desenvolvimento, que una na mesma planilha progresso industrial e sustentabilidade.
Stédile critica a permissividade com que se prolifera no Brasil o uso de agrotóxicos já proibidos em outras partes do mundo por sua agressividade ao ambiente e à saúde. Cita pesquisas que associam o veneno agrícola ao crescimento da incidência de doenças como câncer de próstata, de mama, mal de Parkinson e a problemas de infertilidade. Alerta que, no cigarro, a má fama fica com a nicotina, que só vicia – o que mata são os produtos químicos usados, sobretudo, no cultivo do fumo. E que a produção em larga escala de cana-de-açúcar levando o veneno também para a aguardente: “Pode largar mão de tomar pinga. No Brasil se bebe cachaça há 400 anos, mas antigamente não tinha veneno, e agora tem”.
Stédile vê o cenário político-institucional brasileiro dominado pelo poder econômico. E que a burguesia industrial perdeu a oportunidade de romper fazer um pacto de desenvolvimento porque prefere colocar o dinheiro na especulação financeira. “Por isso foram contra a CPFM. Porque o dinheiro deles está no banco, não na fábrica e na produção.” Diante da hegemonia do agronegócio no Legislativo e no Judiciário, e de um governo dividido pela composição de classes em seu ministério, não está otimista: “Estamos ferrados”. Ele, aposta, porém que “a médio prazo” haverá uma nova ascensão dos movimentos de massa, como foi de 1976 a 1989, empurrada pelo agravamento das contradições da política e do capitalismo brasileiro.
Leia a entrevista na íntegra: http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/104/tem-veneno-ate-na-pinga-acusa-stedile-sobre-o-uso-de-agrotoxicos-no-brasil-3910.html

“Eucalipto transgênico vai sugar água até que ela acabe”




Foto: Reprodução 
Para Leonardo Melgarejo, engenheiro agrônomo e ex-membro da CTNBio, aprovação de nova modalidade irá resultar em um grande consumo de água e impactos ambientais ainda não medidos

08/04/2015
Por José Coutinho Júnior,
De São Paulo (SP)

A votação sobre a liberação do plantio do eucalipto transgênico acontece nesta quinta-feira (9) na Coordenação-Geral da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Adiada em março por conta de protestos das mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a aprovação do eucalipto preocupa especialistas, que consideram a modalidade um risco ao meio ambiente e a produtores.
Leonardo Melgarejo, engenheiro agrônomo que já foi membro da CTNBio, afirma que “em cinco anos o eucalipto geneticamente modificado retiraria do solo o mesmo volume de água e nutrientes que o eucalipto tradicional levaria sete anos para incorporar.Uma lavoura sedenta será substituída, após cinco anos, por outra lavoura sedenta”.
Abaixo, confira a entrevista de Melgarejo à Agência Brasil de Fato, sobre o eucalipto transgênico e o papel da CTNBio na sociedade:
Uma noção muito difundida na sociedade hoje é que, se não existissem as florestas de eucaliptos das grandes empresas, não teríamos papel no Brasil. Isso é verdade? 
Há um enorme exagero nesta afirmativa. E a distorção é ainda maior quando alguns formadores de opinião insistem que não existiriam livros e que o sistema educacional resultaria prejudicado, caso houvesse redução na produção de pasta de celulose.
A esmagadora maioria do produto destas indústrias não se destina a fazer papel, e sim embalagens, como caixas que jogamos fora quase imediatamente, cujo uso é mais restrito do que o do papel higiênico.
Onde não há reciclagem estas caixas servem para pouca coisa além de principiar fogo ou engrossar o lixo. O que essas empresas produzem alimenta cadeias de desperdício.
Quais são os impactos ambientais causados pelas plantações de eucalipto?
Elas geram desertos. Na forma em que são cultivadas para extração de celulose, constituem blocos enormes que são refratários a todas as formas de vida.
O sombreamento dificulta a proliferação de outras plantas e a escassez de alternativas de alimentos dificulta a sobrevivência de animais e insetos. A densidade de plantas provoca elevado volume de extração de água do subsolo.
A capa que cobre o solo retém a maior parte das águas da chuva, dificultando o reabastecimento dos lençóis freáticos.
De que forma esses impactos aumentariam com a aprovação do eucalipto transgênico?  
Segundo a empresa que detém as patentes, o eucalipto transgênico produz o mesmo volume de madeira que o não transgênico em menos tempo.
A rapidez de transformação de água, luz e nutrientes, em termos de eucalipto, seria aumentada em 30%.
Em outras palavras, em cinco anos o eucalipto GM (geneticamente modificado) retiraria do solo o mesmo volume de água e nutrientes que o eucalipto tradicional levaria sete anos para incorporar.
Evidentemente em situações de escassez de água o problema se agravaria. Os estudos mostram que na fase de crescimento as necessidades de água são maiores, estabilizando-se quando a árvore é adulta. Ora, estas florestas de eucaliptos são cortadas exatamente antes desta estabilização do consumo.
Uma lavoura sedenta será substituída, após cinco anos, por outra lavoura sedenta, que em cinco anos dará lugar a outra. As áreas com florestas de eucalipto serão bombas de sucção d’água, trabalhando em metabolismo acelerado até que acabe a água.
O cultivo de eucalipto transgênico pode comprometer a produção de alimentos no país?
Sim. A expansão de lavouras de eucalipto sobre áreas ocupadas com outras atividades, em especial nas áreas destinadas à produção de alimentos, pode reduzir a oferta de produtos ao consumo humano.
Isto ocorreu com a expansão das lavouras de cana, de soja, de algodão, e tende a se repetir em todas as monoculturas de exportação. Agricultores familiares envolvidos com a produção de alimentos são deslocados de suas atividades, o que repercutirá em redução na oferta de leite, mandioca, etc.
Ao contrário do que se afirma, o fato de se poder cultivar um eucalipto que cresce mais rápido não reduzirá a área ocupada com esta cultura. Ocorrerá o oposto. Ao se tornar uma atividade mais atraente sob o ponto de vista de retorno do capital investido, a área cultivada com ao eucalipto transgênico deverá crescer comparativamente ao que ocorreria em sua ausência.
Do ponto de vista do mercado, como falar que o eucalipto transgênico aumentará a produtividade, se apenas uma empresa detém as suas patentes?
Não haverá ganhos globais de produtividade. O clone mais produtivo, tendo um dono, só será utilizado por concessão desta empresa. A produtividade média não será alterada, a não ser que a empresa resolva permitir que seus concorrentes utilizem o mesmo material genético.
O dossiê da empresa afirma que a introdução de dois transgenes, um destinado a alterar a estrutura da celulose, alongando células, e outro que serve como marcador de seleção, teriam tornado o eucalipto mais produtivo.
É difícil aceitar esta afirmativa, porque os mesmos transgenes já haviam sido apresentados como modificadores da estrutura da madeira, sem impacto sobre a produtividade.
Aparentemente a empresa provocou a modificação inserindo aqueles transgenes sobre um clone mais produtivo, que por suas características próprias não dependeria da modificação para produzir maior volume de madeira em menor tempo.
Assim, a empresa poderia estar usando este fato (uma base mais produtiva) para forjar um discurso de que a transgenia aumenta a produtividade.
Um clone mais produtivo não dá direito de patente. Mas um eucalipto com um transgene patenteado por uma empresa confere a esta empresa direitos exclusivos sobre aquela planta.
Ganhos de produtividade são difíceis de obter, pois a produtividade é construída ao longo das relações que a planta estabelece com o ambiente, e depende de tantos fatores que não é possível aceitar o discurso desta empresa.
A preocupação com a produção e exportação de mel orgânico é grande. De que forma os produtores serão afetados, caso o eucalipto transgênico seja aprovado?
O pólen transgênico estará presente no mel, no própolis, na geleia real e em todos os seus derivados. No mercado de orgânicos isto é considerado inaceitável. Simples traços de material GM implicam rejeição, exclusão de qualquer produto.
O Brasil perderá acesso aos mercados de produtos orgânicos. Uma pena, pois hoje somos o principal produtor mundial de própolis verde e temos possibilidades enormes de crescimento em outras linhas de produtos.
A apicultura se mostra uma excelente alternativa de renda para a agricultura familiar e este mercado está em franco crescimento. Tudo isso será perdido.
Foram apresentados estudos que comprovam que o eucalipto transgênico é melhor economicamente e não causa danos ambientais à CTNBio? Se sim, que estudos foram esses? 
Não. Os estudos são falhos, incompletos e insuficientes. Uma curiosidade ilustra a gravidade do tema. A CTNBio avalia os pedidos de liberação comercial com base em dossiês preparado pelas empresas.
O dossiê deve incluir laudos, pesquisas de laboratório, pareceres diversos e, principalmente, pesquisas de campo aprovadas pela CTNBio, onde serão levantados dados que garantirão a inexistência de danos para o ambiente, entre outras informações.
Não é surpreendente que a empresa tenha encaminhado seu pedido de liberação comercial antes de apresentar os resultados de boa parte dos estudos aprovados pela CTNBio para avaliação a campo do eucalipto transgênico? Alguns destes estudos ainda estão em andamento e seus resultados deixaram de ser necessários? Como isso é possível?
Faltam estudos sobre o consumo de água, os impactos em polinizadores, os danos ambientais e socioeconômicos a populações afetadas indiretamente pela expansão das lavouras de eucalipto.
Também é surpreendente a constatação de Paulo Kageyama [integrante da CTNBio e professor da Universidade de São Paulo contrário à liberação do eucalipto transgênico]: na avaliação de alguns membros da CTNBio, favoráveis ao pedido de liberação comercial do eucalipto GM, não foram incorporados nem considerados estudos adicionais aos apresentados pela própria empresa.
Por que a comissão aprova patentes transgênicas de forma rápida e sem estudos aprofundados? Que impactos os transgênicos causam para produtores e consumidores?
A discussão sobre transgênicos, em geral, é bem mais ampla do que sugere o caso do eucalipto. As lavouras de milho transgênico, que carregam proteínas inseticidas e são veículos para transporte de resíduos de herbicidas mereceriam avaliação detalhada.
Estas lavouras estão ampliando o volume de venenos aplicados no meio rural, com impacto sobre o solo, a água e as populações ali residentes. Mas não apenas isso. Os produtos destas lavouras são veículos que unem a aplicação de venenos à mesa dos brasileiros.
O cuscuz, o milho verde, a polenta, o pão estão levando resíduos de venenos até o prato de cada um de nós. O veneno na comida já é um impacto, e podemos esperar que haja impactos maiores.
Não sabemos o tamanho do problema. Sabemos apenas que não é possível afirmar, com seriedade, que os transgênicos e seus pacotes tecnológicos não fazem mal para a saúde. E podemos suspeitar que façam.
Não existem estudos epidemiológicos comparando populações que comem transgênicos com populações livres de transgênicos. Se houvesse empenho, seria fácil avaliar populações de ratos, porcos, galinhas, comendo rações com e sem transgênicos. 
Mas há um bloqueio que dificulta a realização destas análises. O único estudo de longo prazo realizado com este tipo de protocolo mostrou que ratos alimentados com o milho NK603, da Monsanto, começam a apresentar alterações cancerígenas após os 100-120 dias de consumo.
Vários estudos independentes, publicados em revistas cientificas especializadas, associam os pacotes tecnológicos das lavouras transgênicas e seus herbicidas ao aumento de câncer, a problemas neurológicos, a alterações na taxa de fertilidade e a alterações hormonais de diversos tipos.
E os impactos vão além disso. Não se trata apenas de uma questão de saúde pública. As implicações alcançam o tema da soberania nacional. Precisamos de sementes para plantar as safras de soja e milho, sementes que pertencem a meia dúzia de empresas. Se elas assim decidirem, podem ameaçar o país com desabastecimento.
Ao aprovar transgênicos dessa forma, os representantes da CTNBio seguem uma lógica do mercado ao invés do interesse da sociedade. Por que isso ocorre?
É difícil interpretar as razões que levam os membros da maioria, na CTNBio, a atribuir tamanha confiança aos escassos argumentos apresentados pelas empresas e, ao mesmo tempo, negar atenção a estudos reunidos na literatura independente, que contrariam as campanhas de marketing.
Existem membros ativos da comissão incondicionalmente a favor dos transgênicos, e uma maioria silenciosa que acompanha esses “líderes”, por confiança em suas posições e, em função disso, negando argumentos opostos.
Assim, quando membros que examinam um processo e argumentam que os estudos ali contidos são insuficientes, incompletos, falhos ou mesmo errados, a maioria – que não leu o processo – ignora aquelas afirmativas, dando preferência à fala de outro parecerista que, tendo lido o processo, se diz satisfeito com os argumentos ali contidos.
Não há confronto de argumentos. Não há choque de opiniões com prevalência de documentos e emergência de conscientização coletiva. Há um movimento de bloco, com resultados previsíveis, condicionado pela seleção dos membros da CTNBio.
Por que não há maior participação da sociedade nas reuniões da comissão?
As reuniões são realizadas em Brasilia, em salas pequenas. As plenárias, embora abertas ao público, implicam em custos de deslocamento e estadia que se fazem proibitivos para representações da sociedade civil.
Assim, apenas representantes das empresas monitoram o que se passa naquele ambiente, estimulando movimentos no interesse de seus objetivos.
Isto poderia ser mais equilibrado, utilizando mecanismo simples. Bastaria veicular ao vivo os debates da CTNBio, utilizando um canal aberto como a TV Senado, ou mesmo o Youtube. Não existem impedimentos técnicos para isso.
E, com transmissão ao vivo, os membros seriam mais cautelosos em relação aos argumentos que apresentam e aos desdobramentos de suas decisões.
Por que a decisão de aprovar transgênicos só cabe à CTNBio?
O caráter das decisões ali tomadas não deveria ser definitivo. A CTNBio deveria ser uma instância consultiva, subordinada à avaliação final de profissionais da área de riscos para a saúde, como o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para o meio-ambiente, com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e o Ministério do Meio Ambiente. Considerando ainda questões agronômicas, com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), e os riscos socioeconômicos, com o Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Não é aceitável que as decisões resultem de votos de membros que, na maioria das vezes, sequer leram os processos em avaliação e que não terão responsabilidades sobre as consequências de suas decisões.
O Brasil tem instâncias profissionais que devem estar acima dos pareceres da CTNBio, e não submetidas a eles.
A votação do eucalipto foi adiada em março por conta de mobilizações das mulheres do MST. Para que a CTNBio considere os interesses da sociedade, será preciso sempre pressionar e fiscalizar seu trabalho?
A sociedade tem o dever de pressionar e fiscalizar o trabalho de todas as agências do governo e a democracia só crescerá com isso.
Sem isso, os membros da CTNBio podem se sentir à vontade para decidir sobre a autorização de plantio de uma variedade transgênica sem levar em conta a planta modificada e suas conexões com o ambiente, avaliando apenas algum gene que tenha sido inserido e alguma proteína a ele associada.
A CTNBio, com certeza, se inclui entre as áreas críticas no que diz respeito a questões de biorrisco. As decisões ali tomadas têm implicações importantes para a saúde, o ambiente e não podem passar despercebidas, criando, no interesse de poucos, fatos consumados que afetarão a todos.
Felizmente, as mulheres camponesas, principais responsáveis pela Politica Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, chamaram atenção para esta questão do eucalipto, que também se estende ao milho, a soja, ao feijão, ao sorgo, à laranja, alface e a tantos outros produtos em fase de modificação transgênica.
Espero que seu exemplo seja seguido pelo Ministério Público Federal e por comissões de ética das categorias profissionais representadas dentro da CTNBio. Espero que a sociedade aproveite o momento para debater a forma de atuação da CTNBio e suas implicações para o Brasil
*Com informações do Brasil de Fato RJ


http://www.brasildefato.com.br/node/31762

Deputados e sociedade civil defendem pagamento por serviços ambientais

evairpsa


A Frente Parlamentar Ambientalista reuniu, nesta quarta-feira (8), na Câmara dos Deputados, parlamentares e representantes de organizações da sociedade civil para debater o pagamento por serviços ambientais (PSA).
A mesa do encontro, presidida pelo diretor de políticas públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani, foi composta por Aldem Boursheit, especialista da superintendência de políticas públicas da WWF-Brasil, Rubens Born, do Fórum Brasileiro de ONGs, e pelos deputados Nilto Tatto (PT-SP), Arnaldo Jardim (PPS-SP) e Evair de Melo (PV-ES).
O deputado Nilto Tatto abriu o evento afirmando que o país precisa avançar para que haja uma compensação para aqueles que preservam o meio ambiente. Ele lembrou que as áreas preservadas não são utilizadas para a exploração agropecuária, o que onera seus proprietários. “Os agricultores que preservam estão deixando de ganhar, enquanto os que desmatam estão ganhando”, afirmou o deputado.
Atualmente secretário de agricultura e abastecimento do estado de São Paulo, o deputado Arnaldo Jardim foi relator do PL 792/2007, de autoria do deputado Anselmo de Jesus (PT-RO), e apresentou um substitutivo ao projeto. A proposta encontra-se hoje em fase de apreciação pela Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara. O parlamentar destacou o processo de elaboração do substitutivo, que foi de convergência e agregação, mesmo ocorrendo em um momento duro da luta ambiental, durante as discussões do Código Florestal. Fruto de debates aprofundados com os mais diversos setores da sociedade, o projeto evoluiu para abranger aspectos como conservação da água e do solo, polinização, turismo, entre muitos outros.
Jardim explicou que em vários estados e municípios há diferentes formas de pagamento por serviços ambientais, e que é preciso assimilar as boas experiências. Referiu-se, também, à necessidade de estabelecer as fontes de recursos para os pagamentos, citando a cobrança pelo uso da água e o Imposto de Renda ecológico, sobre o qual há um projeto em tramitação no Congresso. “A legislação ambiental brasileira é altamente complexa, mas ainda faltam instrumentos para estimular as boas práticas”, avaliou o deputado.
Aldem Boursheit disse que a pauta em discussão tem uma relação direta com preservação ambiental, equilíbrio climático e saúde pública. Ele defendeu o cadastro de PSA para que se tenha uma expertise, um apanhado das melhores experiências. O WWF-Brasil, em conjunto com diversas outras entidades, elaborou e publicou um relatório de Diretrizes para a Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais. Na opinião do especialista, o substitutivo do deputado Arnaldo Jardim deve ser apoiado.  “É fundamental que os avanços que o PL 792 conseguiu sejam valorizados, para que a gente chegue ao melhor resultado possível”, afirmou.
Rubens Born apresentou à Frente Ambientalista a Matriz PSA Brasil. O ambientalista explicou que o PSA é “um gênero, que tem várias espécies”. A matriz, que será lançada no final de maio, é um instrumento que permite uma visão panorâmica das várias experiências, avaliando provedores, usuários, desafios e resultados. Tem como objetivo, junto com outros instrumentos, alavancar o PSA no Brasil. “Precisamos, de fato, de um marco legal que crie uma harmonia federativa para a aplicação de PSA”, ponderou Born.
O deputado Evair de Melo foi designado, na Comissão de Agricultura, relator do PL 312 / 2015, de autoria do deputado Rubens Bueno (PPS-PR), que também trata de política nacional de pagamento por serviços ambientais. Ele dispôs-se a conhecer a experiência acumulada ao longo do percurso do PL 792 e defendeu que os dois projetos sejam apreciados de modo unificado. “Precisamos de um acordo, para dar celeridade à tramitação”, concluiu.

Fonte: Comunicação Lid-PV

Foto: Paula Laport / Lid-PV

VIII CBUC – Últimos dias para inscrições de Trabalhos Técnicos



Os interessados em enviar trabalhos técnicos para o VIII Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (VIII CBUC) poderão inscrever seus artigos até 15 de abril de 2015. Para tanto, é necessário preencher o formulário online disponível na área de Trabalhos Técnicos.
Os trabalhos devem apresentar ferramentas, procedimentos e modelos inovadores para gestão das Unidades de Conservação, preferencialmente com alguns resultados. Nesta edição do CBUC, além da disseminação destas informações, são desejáveis discussões sobre estratégias inspiradoras, transversais e transformadoras em prol da conservação da biodiversidade. Os trabalhos devem ser enquadrados em um dos cinco eixos temáticos, quais sejam:
  1. Planejamento, Gestão e Manejo – experiências de gestão e manejo de Unidades de Conservação, em especial aquelas que possuam caráter inovador possível de replicação a outras áreas protegidas.
  2. Estratégias de Mobilização da Sociedade – resultados e impactos de ações ou iniciativas cujo alvo principal tenha sido mobilizar, transformar e inspirar pessoas sobre a importância das Unidades de Conservação, por meio de ações estruturadas, campanhas e outras metodologias.
  3. Políticas Públicas e Marco legal – processos de criação ou ampliação de Unidades de Conservação ou que tenham influenciado na elaboração de instrumentos legais (zoneamento, planos de manejo ou ações emergenciais para proteção de espécies e ecossistemas).
  4. Serviços ambientais – metodologias, resultados dos benefícios ambientais, sociais e econômicos gerados com a criação e manutenção das Unidades de Conservação.
  5. Biologia da Conservação – aspectos técnico-científicos que auxiliaram ou possam subsidiar tomadas de decisão s para a conservação e o manejo de espécies e hábitats.
Após o término do período de recebimento, as propostas submetidas serão selecionadas por consultores voluntários da Fundação Grupo Boticário, organizadora do VIII CBUC. O resultado dos trabalhos aprovados deverá ser divulgado na primeira quinzena de julho de 2015.
Em caso de dúvidas ou necessidade de informações adicionais sobre o congresso, entre em contato com a comissão organizadora do evento pelo e-mail congressouc@fundacaogrupoboticario.org.br.


http://eventos.fundacaogrupoboticario.org.br/CBUC/Noticias?idNoticia=5

Irrigação com água tratada de esgoto diminui a retirada dos mananciais e economiza fertilizantes

Pesquisa Fapesp, Março 2015
Desde quando a crise hídrica se tornou mais grave, em meados do ano passado, tem se falado que dentre as atividades humanas a agricultura é a que mais consome água doce. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 70% do total disponível – que já não é muito, apenas 3% da água existente no planeta – usada para irrigação. No Brasil, esse índice chega a 72%. Só na cana-de-açúcar, uma das maiores culturas do país e da qual o estado de São Paulo é responsável pela metade da produção nacional, são necessários pelo menos 1.500 litros por metro quadrado de área cultivada por ano. Diante desse quadro e da maior seca dos anos recentes que os paulistas enfrentam, e mesmo antes de esse problema aparecer de forma mais dramática, pesquisadores das três universidades estaduais desenvolvem pesquisas em busca de alternativas. A mais promissora é o uso do esgoto doméstico tratado para irrigação. Chamada de água de reúso, essa opção aumenta a produtividade da cana e traz ganhos ambientais, porque deixa de ser jogada nos rios e em outros mananciais.
Um desses projetos é desenvolvido pela equipe do engenheiro agrônomo Edson Eiji Matsura, professor da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Nosso objetivo principal era saber como poderíamos produzir cana-de-açúcar com ajuda da irrigação de forma sustentável, considerando os aspectos econômico, ambiental e social, porque toda a sociedade ganha com a diminuição do consumo de água”, explica. O resultado indicou que a redução da utilização de água em um plantio de cana experimental foi de 50%. “O principal desafio foi utilizar água de reúso proveniente de um tratamento do esgoto doméstico da nossa própria faculdade.”
Para fazer o experimento, a equipe da Unicamp armazena o esgoto da Feagri e faz três tipos de tratamento, o primeiro em reatores anaeróbicos (tanques fechados com bactérias), depois com plantas macrófitas aquáticas que possuem grandes sistemas de raízes que filtram o esgoto. Por último, o líquido passa por filtros de areia. Depois, a água residuária é transportada até a lavoura por meio de bombas e tubulações. Em seguida, ela é distribuída na plantação por tubos gotejadores, enterrados em profundidades de 20 centímetros (cm) ou 40 cm, técnica chamada de irrigação subsuperficial ou subterrânea. “É a forma mais segura de fazer a irrigação com esse material, porque evita a contaminação das pessoas e da própria planta acima do solo”, explica Matsura. “Além disso, também é a mais eficiente, porque não há perda por evaporação.”
© ESALQ
Estação de tratamento de esgoto em Piracicaba. Quanto mais perto da lavoura, melhor o aproveitamento
Estação de tratamento de esgoto em Piracicaba. Quanto mais perto da lavoura, melhor o aproveitamento
O experimento foi realizado com o plantio de cana numa área de meio hectare, equivalente a 5 mil metros quadrados (m2), no campo experimental da Feagri, que tem no total cerca de 10 hectares. A cultura da cana começa com um plantio, que é colhido 18 meses depois. Uma pequena parte da planta cortada é deixada na lavoura e brota. Desde então, já foram realizadas três colheitas. Numa boa plantação comercial pode haver até sete delas. Depois, a lavoura deve ser refeita, com novo plantio. Com irrigação de água residuária, Matsura espera chegar a 10.
O otimismo vem da eficiência da irrigação com esgoto doméstico testado em blocos na área de cultivo da Feagri, com nove tipos de tratamento: sem irrigação, irrigação com esgoto aplicado a 20 cm de profundidade com e sem fertirrigação, quando há acréscimo de adubos químicos à água residuária, esgoto a 40 cm com e sem fertirrigação, irrigação com água de reservatório superficial (lago ou rio) a 20 cm e água de reservatório a 40 cm. Para cada um foi avaliado, entre outros parâmetros, produtividade, desenvolvimento vegetativo, trocas gasosas, diagnóstico nutricional das folhas e dos colmos e fertilidade do solo na primeira e segunda colheitas”, explica Ivo Zuiton, orientando de Matsura, em sua tese de doutorado defendida na Feagri, no início de fevereiro.
Entre os principais resultados do projeto está a economia em fertilizantes. A concentração de nutrientes nos efluentes permitiu a redução de até 100% na necessidade do uso de nitrogênio e fósforo na segunda colheita, e mais de 50% para o fósforo, nitrogênio e potássio na primeira em comparação com os tratamentos irrigados com a água de reservatório. Quanto à produtividade, ela chegou a mais de 200 toneladas por hectare nas parcelas irrigadas com esgoto, o dobro das sem irrigação, apenas com a água da chuva.
Segundo Matsura, em todos os tratamentos irrigados a pegada hídrica, que é o volume total de água consumido direta e indiretamente no processo de produção de bens e serviços, foi inferior ao não irrigado. Isso acontece porque a irrigada gasta menos água proporcionalmente, já que produz mais cana. Assim, ao se dividir a produção pelo consumo de água, a pegada hídrica é menor na irrigada. No caso da irrigação com esgoto e fertirrigação, a redução chegou a mais de 50% em comparação com a área não irrigada. “A pegada hídrica da cana nos cultivos irrigados foi inferior à estimada nos cultivos não irrigados, com redução variando de 35,3 metros cúbicos (m³) a 23,1 m³ por tonelada para os tratamentos com esgoto e fertirrigação e águas de rios e lagos sem esse adicional de adubo”, diz Matsura. “Os resultados confirmam a proposição da irrigação por gotejamento subsuperficial em reduzir a pegada hídrica no cultivo de cana-de-açúcar.”
O trabalho de Matsura é uma continuidade de uma outra pesquisa coordenada pelo professor Adolpho José Melfi, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), em Piracicaba. Os pesquisadores liderados por Melfi também testaram, entre 2005 e 2010, o uso de esgoto doméstico tratado na irrigação de cana-de-açúcar (ver Pesquisa FAPESP nº 166). Um dos principais resultados obtidos foi um aumento de 60% na produtividade da cultura. “Além disso, demonstramos que é possível, dependendo do manejo da irrigação, proporcionar o fornecimento completo de nitrogênio, potássio e cálcio em atendimento à necessidade da cana”, conta Melfi. “A irrigação com efluentes tratados se mostrou uma prática viável para a agricultura, do ponto de vista econômico, com a redução do uso de fertilizantes minerais, e ambiental, ao propiciar uma melhor gestão dos recursos hídricos”, diz Célia Regina Montes, pesquisadora do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP, que também participou do trabalho. “Outra vantagem é que em épocas de estiagem a cultura não sofreria com a falta de umidade, porque o esgoto é produzido continuamente e poderia ser utilizado.”
Matsura começou a trabalhar com água de reúso em 1999. “O objetivo era estudar a utilização de água residuária tratada por meio de leitos cultivados com plantas macrófitas e seu impacto sobre o sistema solo-planta, além da irrigação por aspersão, gotejamento superficial e subterrâneo. Depois de 12 anos, no entanto, percebi que pouco tínhamos evoluído em termos de uso e de legislação adequada no emprego desse material na agricultura.” A situação começou a mudar em 2010, quando ele recebeu um convite para conhecer o projeto coordenado pelo professor Melfi, em Piracicaba. “Nesse momento compreendi a possibilidade de retomarmos os estudos anteriores e ampliarmos os conhecimentos na área, principalmente em sistemas produtivos sustentáveis”, conta. “Além disso, com a cana-de-açúcar, podíamos explorar a tecnologia existente na produção de etanol, o que facilitaria o uso de esgoto tratado por não ser alimento.”
Em linha de pesquisa semelhante, mas com outra planta, o pesquisador Rogério Faria, da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias do campus de Jaboticabal da Universidade Estadual Paulista (Unesp), estudou o uso dos efluentes domésticos com fertirrigação no cultivo da Brachiaria brizantha, uma gramínea perene originária da África que se adaptou ao Brasil e é usada na alimentação animal. “O aumento populacional concentrado em áreas urbanas incrementa significativamente a produção de esgoto”, diz Faria. “Devido ao custo elevado dos sistemas de tratamento da água, há necessidade de se promover o uso do esgoto.” Por isso, segundo ele, a utilização desse material para irrigação é uma alternativa cada vez mais atraente. A aplicação de águas residuárias por meio da fertirrigação supre as necessidades hídricas da cultura, irrigando e aplicando os resíduos com alta taxa de micro e macronutrientes. “No nosso trabalho, o efluente de esgoto tratado forneceu até 1.000 quilos por hectare (kg/ha) de nitrogênio e até 600 kg/ha de potássio por ano, além de outros nutrientes essenciais para a forrageira”, explica. Esse suprimento corresponde às quantidades de fertilizantes minerais que o agricultor pode economizar, diminuindo o custo de produção. Constatou-se também aumento da receita bruta da cultura, uma vez que a braquiária apresentou aumento de produção de forragem em cerca de 60%.
© EDUARDO CE SAR
Na primeira colheita de um cultivo de cana irrigada com água de reúso, a necessidade de adubação foi, no mínimo, menor em 50% em fósforo, nitrogênio e potássio
Na primeira colheita de um cultivo de cana irrigada com água de reúso, a necessidade de adubação foi, no mínimo, menor em 50% em fósforo, nitrogênio e potássio
Irrigação com esgoto doméstico tratado não é a única forma de reduzir o consumo de água na agricultura brasileira, principalmente no setor sucroalcooleiro. É o que mostra um trabalho realizado pelos pesquisadores Fábio César da Silva, da Embrapa Informática Agropecuária, uma unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, de Campinas, e Alexei Barban do Patrocínio, da Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo, de Piracicaba. Realizada em quatro usinas – três de São Paulo e uma do Paraná, – a pesquisa demonstrou que algumas tecnologias simples como a limpeza a seco da cana para a queima da palha nas caldeiras de alta pressão fazem o consumo de água diminuir entre 11% e 13%, em relação à lavagem úmida usual. “Outra medida, a substituição do spray (sistema de refrigeração por aspersão) pela torre de resfriamento reduziria as perdas de 5% a 8% para 1,5% a 3%, no total do balanço hídrico”, diz Silva.
Com essas ações, as quatro usinas em conjunto, que têm capacidade de processar 2.400 toneladas de cana por hora, poderiam economizar, em números absolutos, 32.895 m³ de água por dia. Segundo Silva, os critérios da certificação internacional das usinas estabelecem hoje que o consumo seja inferior a 20 litros por quilo de açúcar produzido e 30 litros por quilo de etanol. “Os valores obtidos no nosso trabalho demonstram que existe a possibilidade de se obter um consumo hídrico menor que 10 litros por quilo de açúcar”, diz. “Por isso, os resultados da pesquisa auxiliam no desenvolvimento de soluções sustentáveis para as produções de etanol e de açúcar.”
Além dos ganhos econômicos, esses estudos mostram os benefícios ambientais que as alternativas apontadas nos trabalhos podem trazer. Um deles é a preservação dos lagos, rios e outros reservatórios, além das águas subterrâneas, porque o esgoto usado na irrigação deixa de ser lançado nesses mananciais. “Isso significa utilizar essas fontes para usos mais nobres, como o consumo humano e animal, dado que essas águas estão ficando mais escassas.”
Apesar dos bons resultados obtidos experimentalmente até agora e das perspectivas que eles abrem, ainda há alguns obstáculos para a utilização em larga escala do esgoto doméstico tratado na irrigação – nenhum deles intransponível. Melfi lembra, por exemplo, que os efluentes podem conter em sua composição metais pesados, organismos patogênicos, alta quantidade de sódio e nitrogênio. “Tratando-se de esgotos domésticos, no entanto, os metais pesados não impedem sua utilização na irrigação, porque os teores, quando presentes, estão abaixo dos valores restritivos impostos pela legislação e pela Organização Mundial da Saúde [OMS]”, garante.
Em relação aos riscos com organismos patogênicos, Melfi diz que eles podem ser minimizados se forem escolhidas culturas para irrigação que sejam processadas industrialmente, como é o caso da cana-de-açúcar. Para outras culturas há a possibilidade de desinfetar o esgoto tratado antes de sua utilização na irrigação com cloro, por exemplo. “Quanto ao sódio, no nosso projeto verificamos que a alta concentração deste elemento, que pode causar efeitos negativos sobre as propriedades físicas do solo, foi naturalmente reversível após períodos de chuva”, conta. “Além disso, é possível, se necessário, escolher manejos para correção do solo com a aplicação do gesso agrícola. Com relação ao nitrogênio, adequar às lâminas de irrigação, ou seja, fornecer a quantidade exata exigida pela cultura, evita, principalmente, a lixiviação de nitrato para o lençol freático.”
Um obstáculo mais sério é a inexistência de uma legislação específica que regulamente o assunto. O que existe hoje é apenas a Resolução nº 375, de 29 de agosto de 2006, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que trata do lodo de esgoto doméstico, que é a parte sólida, subproduto do tratamento, além da Resolução 121/2010 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), que estabelece as diretrizes e os critérios para a prática de reúso direto de água não potável para as modalidades agrícola e florestal. “O Brasil tem pouca experiência com a utilização de efluentes em irrigação, por isso a legislação não é específica”, diz Faria. Ele acredita que esses estudos servem de base para a elaboração de uma legislação específica, assim como para a instalação de protótipos em cidades-teste.
“O protótipo seria testado em estações de tratamento de esgoto de cidades pequenas e médias, com até cerca de 500 mil habitantes, evitando o escoamento dessa água para os mananciais”, explica. “Em cidades médias e pequenas essa questão pode ser facilmente resolvida prevendo-se a incorporação de áreas para aplicação do efluente junto ao projeto das futuras estações de tratamento, uma vez que a área demandada é pequena.” Assim, numa cidade de cerca de 80 mil habitantes, como Jaboticabal, no interior paulista, o volume de efluentes gerado possibilitaria irrigar 240 a 320 hectares, enquanto para a vizinha Ribeirão Preto, de cerca de 600 mil habitantes, a área irrigada seria de 1.800 a 2.400 hectares.
Projetos
1. Uso de efluentes de esgotos tratados por processos biológicos (lagoas de estabilização e reatores Uasb/lodos ativados) em solos agrícolas (nº 2004/14315-4); ModalidadeProjeto Temático; Pesquisador responsável Adolpho José Melfi (USP);Investimento R$ 1.055.509,45 e US$ 227.031,64 (FAPESP).
2. Impacto da aplicação de esgoto tratado via gotejamento subsuperficial sobre a nutrição e fisiologia da cultura da cana-de-açúcar (nº 2012/03588-6); ModalidadeBolsa de Doutorado (Ivo Zution Gonçalves); Pesquisador responsável Edson Eiji Matsura (Unicamp); Investimento R$135.512,52 (FAPESP).
3. Aplicação de esgoto tratado em sistema de irrigação subsuperficial na cultura da cana-de-açúcar (nº 2011/07301-0); Modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular;Pesquisador responsável Edson Eiji Matsura (Unicamp); Investimento R$ 158.751,89 e US$ 65.387,10 (FAPESP).
4. Efeitos da aplicação de efluente de esgoto tratado, via fertirrigação, no solo e no cultivo de Brachiaria (nº 2012/12923-3); Modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular;Pesquisador responsável Rogerio Teixeira de Faria (Unesp); InvestimentoR$ 67.686,75 (FAPESP).

A água revela o despreparo do Brasil para enfrentar os impactos do clima

Por Mario Mantovani*


A água é o elemento da natureza que melhor expressa os impactos do clima, quer seja por secas estremas ou grandes enchentes, e evidencia como estamos sendo, todos, diretamente afetados. Viva em uma grande metrópole ou no campo, os impactos do desmatamento e da poluição nos atingem diariamente e podem ser sentidos nas coisas mais corriqueiras do cotidiano, desde a falta d’água ao preço dos alimentos ou de contas como de água e luz.
Apesar das evidencias e dos alertas da comunidade científica, nem mesmo a falta de chuvas na região sudeste, que ganhou o status de crise hídrica e ressuscitou o fantasma do apagão, foi suficiente para fazer com que o Brasil se posicionasse em relação ao compromisso que levará à Conferencia do Clima de Paris com medidas efetivas para combater o desmatamento e reduzir as emissões de CO2
Autoridades e governantes ainda se mantêm céticos perante a importância da preservação das florestas e da Mata Atlântica para garantir água, resiliência, qualidade de vida nas cidades e sustentabilidade às atividades produtivas. A demora na implementação de políticas públicas e medidas efetivas para enfrentamento da crise da água, somada ao contexto político, econômico e de descredito da sociedade em muitas instituições públicas, tem levado organizações civis e movimentos sociais a promoverem ações, campanhas e iniciativas locais para minimizar os problemas. As soluções criativas e solidárias, além das mudanças de comportamento, ajudam, mas são insuficientes diante da dimensão dos impactos e do modelo de desenvolvimento que ainda prevalece no país.
A situação das nossas cidades é muito diferente da dos discursos e dos compromissos diplomáticos, que não são implementados efetivamente. Desde 2011, o Brasil se comprometeu com a Estratégia Internacional para Redução de Desastres (Eird), coordenada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para construção de cidades resilientes. Segundo a Estratégia, "Cidades Resilientes” são aquelas capazes de resistir, absorver e se recuperar de forma eficiente de desastres ou impactos do clima, e de maneira organizada, prevenir para evitar que vidas e bens sejam perdidos. Esse compromisso envolve dez providências essenciais que deveriam ser implementadas por prefeitos e gestores públicos. As principais delas são o planejamento e o uso do solo, a implantação e manutenção de infraestrutura, saneamento básico, áreas verdes e áreas protegidas, educação e participação das comunidades e da sociedade civil organizada.
No Brasil, ainda estamos longe dessa realidade, mas alguns municípios, como o Rio de Janeiro, começam a dar os primeiros passos em busca desse compromisso. Em janeiro de 2015, a Prefeitura do Rio de Janeiro lançou o documento "Rio Resiliente: Diagnóstico e Áreas de Foco", em que aponta cinco vulnerabilidades climáticas da cidade: chuvas fortes, ventos fortes, ondas e ilhas de calor, elevação do nível do mar e seca prolongada. O objetivo desse documento, segundo a Prefeitura, é indicar à sociedade e às gestores públicos os desafios a serem enfrentados nos próximos anos e décadas, de forma que a preocupação ambiental seja efetivamente incorporada no planejamento de longo prazo da cidade. Uma vez identificadas essas vulnerabilidades, a próxima etapa é apresentar projetos concretos que as mitiguem, evitando que a cidade seja surpreendida como se deu no caso recente da crise hídrica no sudeste. A Prefeitura já avalia formas de promover a eficiência energética e hídrica de seus prédios, inclusive suas quase 1.500 escolas. No caso de chuvas fortes, o maior problema, por ocasionar vítimas fatais, é o deslizamento em encostas de morros. Com a implantação de um radar meteorológico e do Centro de Operações Rio em 2010, mapeamento geológico, instalação de sirenes e abrigos, assim como treinamento de comunidades para evacuação, não há registro de mortes por deslizamentos desde o verão de 2011.
A mitigação ou redução de riscos e desastres decorrentes da ocupação irregular dessas áreas de risco, que deveriam ser aquelas áreas de preservação permanente (APP) urbanas, localizadas em margens de rios e fundos de vale, conservam ecossistemas e ambientes mais equilibrados e promovem impactos positivos em saúde pública e bem-estar das comunidades. Infelizmente, essas áreas que devem ser preservadas para garantir segurança às populações e aumentar a resiliência das cidades, estão ameaças por mais retrocessos na legislação ambiental.
Tramita no Congresso Nacional mais um projeto de lei (PL6830/2013) de autoria do Deputado Valdir Colato (PMDB-SC) que pode reduzir as APPs urbanas, transferindo para os municípios a autonomia para estabelecer o tamanho das faixas de preservação. Atualmente, o Código Florestal estabelece o tamanho da APP em áreas rurais e urbanas, cabendo aos municípios legislar de forma complementar a essa norma Federal. Esse é apenas mais um exemplo prático de como alguns legisladores, motivados muitas vezes por interesses pontuais, ou desconhecimento, insistem em manter o Brasil na contramão da história. Enquanto países e cidades renaturalizam rios e ampliam instrumentos de proteção às suas florestas para evitar acidentes, aqui buscam de forma recorrente desproteger.
Por isso, é preciso estar atento às votações e projetos de lei que tramitam no Poder Legislativo e que podem impactar ainda mais as nossas vidas. E exigir que o Governo Brasileiro assuma compromisso efetivo com o desmatamento e com um novo modelo de desenvolvimento para o país.

*Mario Mantovani é diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, ONG brasileira que desenvolve projetos e campanhas em defesa das Florestas, do Mar e da qualidade de vida nas Cidades.
 http://www.brasilpost.com.br/sos-mata-atlantica/agua-brasil-despreparo_b_7017248.html

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