terça-feira, 24 de outubro de 2017

Frutas pouco conhecidas têm alto poder anti-inflamatório e antioxidante

 As frutas conhecidas como bacupari-mirim, araçá-piranga, cereja-do-rio-grande, grumixama e ubajaí ainda não ganharam fama, nem espaço nos supermercados. Se depender de suas propriedades bioativas, em questão de tempo elas poderão estar não só disputando espaço nas gôndolas como ganhando posição no ranking dos alimentos da moda.
Além dos valores nutricionais, as cinco frutas nativas da Mata Atlântica têm elevadas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Foi o que verificou uma pesquisa desenvolvida na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com a Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade de La Frontera, no Chile.
“Não havia muito conhecimento científico sobre as propriedades dessas frutas nativas. Agora, com os resultados do nosso estudo, a ideia é fazer com que elas sejam produzidas por agricultura familiar, ganhem escala e cheguem aos supermercados. Quem sabe elas não se tornam um novo açaí?”, disse Severino Matias Alencar, do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição da Esalq, se referindo ao sucesso comercial da fruta amazônica com grande quantidade de antioxidantes e que hoje tem a polpa exportada pelo Brasil para vários países.
O trabalho, com apoio da FAPESP, teve resultados publicados na revista PLOS ONE.
No estudo foram avaliados os compostos fenólicos – estruturas químicas que podem ter efeitos preventivos ou curativos – e os mecanismos anti-inflamatórios e antioxidantes do extrato de folhas, sementes e polpa de quatro frutas do gênero Eugenia e uma do gênero Garcinia: araçá-piranga (E. leitonii), cereja-do-rio-grande (E. involucrata), grumixama (E. brasiliensis), ubajaí (E. myrcianthes) e bacupari-mirim (Garcinia brasiliensis), todas típicas da Mata Atlântica.
Como elas são espécies difíceis de serem encontradas e algumas estão em risco de extinção, as plantas foram fornecidas por dois sítios localizados no interior de São Paulo. As duas propriedades comercializam as plantas com o objetivo de preservação da coleção. Um dos produtores possui a maior coleção de frutas nativas do Brasil, somando mais de 1,3 mil espécies plantadas.
“Começamos nosso estudo prospectando as propriedades bioativas das frutas, pois sabíamos que elas poderiam ter boa quantidade de antioxidantes, assim como são as chamadas ‘berries’ americanas, como o mirtilo, a amora e o próprio morango, muito conhecidas pela ciência. Mas nossas frutas nativas se mostraram ainda melhores”, disse Alencar.
De acordo com o estudo, as espécies do gênero Eugenia têm um vasto potencial econômico e farmacológico evidenciado não só pelo número de publicações científicas, mas também pela exploração comercial de suas frutas comestíveis, madeira, óleos essenciais e uso como plantas ornamentais.
Elas são exemplos de alimentos funcionais, que, além das vitaminas e valores nutricionais, têm propriedades bioativas como o combate aos radicais livres – átomos instáveis e altamente reativos no organismo que se ligam a outros átomos, provocando danos como envelhecimento celular ou doenças.
“O organismo tem naturalmente antirradicais livres, que neutralizam e eliminam os radicais livres do corpo, sem causar dano. Porém, fatores como idade, estresse e alimentação podem promover um desequilíbrio nessa neutralização natural. Nesses casos, é preciso contar com elementos exógenos, ingerindo alimentos que tenham agentes antioxidantes como os flavonoides, as antocianinas do araçá-piranga e das outras frutas do gênero Eugenia”, disse Pedro Rosalen, da Faculdade de Odontologia da Unicamp em Piracicaba.
O pesquisador ressalta que há cerca de 400 espécies pertencentes ao gênero Eugenia distribuídas pelo Brasil, incluindo várias espécies endêmicas. “Temos uma imensidão de frutas nativas com compostos bioativos que trariam benefícios para a saúde da população. É preciso estudá-las”, disse.
Alencar é um dos pesquisadores do projeto “Bioprospecção de novas moléculas anti-inflamatórias de produtos naturais nativos brasileiros”, coordenado pelo professor Rosalen, também autor do artigo publicado na PLOS ONE.
Campeão contra inflamação
As frutas estudadas no projeto com elevada atividade antioxidante para serem usadas em indústrias de alimentos e farmacêuticas também tiveram pesquisadas as capacidades anti-inflamatórias. A grande estrela foi a araçá-piranga, como demonstraram em artigo publicado no Journal of Functional Foods.
“A araçá-piranga, espécie ameaçada de extinção, teve a melhor atividade anti-inflamatória em comparação com a de outras frutas do gênero Eugenia”, disse Rosalen. “O mecanismo de ação também é muito interessante, pois ocorre de forma espontânea e logo no começo da inflamação, impedindo uma via específica do processo inflamatório. Ela age também no endotélio dos vasos sanguíneos, evitando que os leucócitos transmigrem para o tecido agredido, reduzindo a exacerbação do processo inflamatório”
Rosalen destaca que os antioxidantes não têm como função única combater o envelhecimento ou a morte celular, mas a prevenção de doenças mediadas por processo inflamatório crônico. “A ação oxidante dos radicais livres também significa o surgimento de doenças inflamatórias dependentes, como diabetes, câncer, artrite, obesidade, doença de Alzheimer”, disse.
“Não percebemos muitas dessas lesões provocadas pelos radicais livres. São as inflamações silenciosas. Por isso, é importante a ação de sustâncias antioxidantes, que podem neutralizar os radicais livres”, disse Rosalen.
As pesquisas colaborativas, apoiadas pela FAPESP e pela Universidad de La Frontera, também permitiram ampliar o conhecimento sobre espécies nativas do Chile. Em um dos estudos, os autores demonstraram a atividade antioxidante e vasodilatadora da murtilla (Ugni molinae), uma fruta nativa do país.
No estudo publicado na Oxidative Medicine and Cellular Longevity, os pesquisadores destacam que o uso de preparações alimentares obtidas a partir de frutas e folhas da murtilla pode ter efeitos benéficos na prevenção e, possivelmente, no tratamento de sintomas de doenças cardiovasculares.
Alencar destaca que conhecer melhor as propriedades pode se mostrar uma boa alternativa para estimular a produção das frutas nativas.
“Antes do projeto com a Universidad de La Frontera, eu e o professor Pedro Rosalen já estudávamos as frutas nativas, pois acreditamos que elas podem revelar ótimas soluções alimentares para a sociedade”, disse.

Fonte: Maria Fernanda Ziegler  |  Agência FAPESP 
O artigo Antioxidant and Anti-Inflammatory Activities of Unexplored Brazilian Native Fruits, de Juliana Infante, Pedro Luiz Rosalen, Josy Goldoni Lazarini, Marcelo Franchin e Severino Matias de Alencar (https://doi.org/10.1371/journal.pone.0152974), pode ser lido em http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0152974

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Agrotóxicos afetam o sangue de doadores e receptores, revela estudo da USP

Estudo na Faculdade de Medicina da USP revela como os agrotóxicos impactam o sangue e afetam doadores. Dados indicam menor sobrevida de plaquetas e hemácias do sangue nas populações mais expostas a agrotóxicos



Os agrotóxicos afetam também o sangue. Dos doadores aos receptores de transfusões. É o que diz uma dissertação de mestrado defendida este ano na Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, e publicada nesta quinta-feira (10/08).
Os dados obtidos pela pesquisadora Fortuyée Rosa Meyohas Neves indicam menor sobrevida de plaquetas e hemácias do sangue nas populações expostas a agrotóxicos. “E que há metabólitos de agrotóxicos no plasma de indivíduos, potenciais doadores de sangue, expostos aos agrotóxicos”, escreve ela já na introdução.
Fortuyée fez uma revisão de 50 trabalhos sobre o tema publicados na literatura científica. E listou quais os pesticidas mais utilizados por potenciais doadores de sangue da região serrana do Rio de Janeiro. Um dos objetivos é dar visibilidade à doação de sangue por moradores da zona rural.
Ela observa que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Entre 15 mil formulações no mundo para 400 diferentes agrotóxicos, conforme os dados da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o país tem licenciadas mais do que a metade: 8 mil.
Segundo a dissertação, há hoje muitos estudos sobre potenciais danos das transfusões à saúde humana. Por isso a necessidade de saber se os doadores da área rural “seriam o veículo para contaminação de receptores pela transfusão”. Fortuyée não encontrou trabalhos específicos sobre esse tema no Brasil.
Outros estudos evidenciaram a contaminação do leite materno. Por exemplo, pesquisas desenvolvidas por Wanderlei Pignati na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Por isso se especulava que haveria esse impacto também nos doadores de sangue.
Em relação ao glifosato, o agrotóxico mais consumido no mundo, a pesquisadora da USP escreve que “praticamente todos os seres humanos estão permanentemente expostos à sua ação”. E que formulações à base desse herbicida podem promover alterações hematológicas e hepáticas, “que podem ser associadas à formação de oxigênio reativo com danos ao fígado, anemia e outros”.
Em sua conclusão, a pesquisadora conta que, no grupo de pessoas mais expostas aos agrotóxicos na produção agrícola, os efeitos adversos “foram proporcionalmente mais intensos”, “e que há relação direta das alterações hematológicas e data da última exposição”.
Segundo ela, isso sugere “inaptidão temporária desses doadores provenientes da área rural com exposição a agrotóxicos”, da mesma forma que ocorre no caso de candidatos a doação de sangue que utilizam determinados medicamentos.
Os dados da literatura indicam que os agrotóxicos “são capazes de induzir alterações nas membranas celulares e no metabolismo dos componentes dos sangues dos doadores”. Consequência possível: redução da sobrevida das hemácias e plaquetas. E perda da qualidade do produto final: o sangue.
A pesquisadora encerra sua dissertação apontando a necessidade de aporte financeiro para o desenvolvimento de mais pesquisas sobre o assunto, que confirmem a ação dos agrotóxicos em hemácias e plaquetas.

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Portaria FF-161



Divulgado no último sábado, 30 de Setembro, a Portaria FF- 161 que dispõe sobre a instituição do Conselho Consultivo da Apa são Francisco Xavier, biênio 2017-2019.

As instituições interessadas, devem preencher como orientado na divulgação, lembrando que são apenas 10 dias o prazo para essas inscrições.

Acesse AQUI e tenha acesso ao conteúdo completo da Portaria.

Acesse AQUI  e tenha acesso ao conteúdo do Edital de Chamamento Publico