sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Montanhas, florestas, água e cidades

 
 Rio Paraíba do Sul e Serra da Mantiqueira, Resende-RJ (Luis Felipe Cesar)

Existem muitas definições de montanhas. Uma das mais abrangentes é adotada pela Convenção da Diversidade Biológica: "As montanhas são caracterizados por distintos valores abióticos, bióticos, sociais, culturais, econômicos e espirituais. Estruturalmente, estas áreas tendem a ter uma combinação das seguintes características físicas e biológicas: altitude ou declividade do terreno, climas diversificados, uma composição relativamente alta de espécies endêmicas e  espécies nativas, e graus de fragilidade e isolamento.  Funcionalmente, as montanhas são as torres de água do mundo e  podem servir como refúgio para muitas populações. Regiões de montanha também tendem a ser essenciais para as comunidades de terras baixas que dependem do fornecimento de bens e de serviços,  como água, energia, alimentos, madeira, animais selvagens, lazer  e valores espirituais".
O Brasil não se destaca internacionalmente como um país de montanhas e nem se reconhece como tal. No entanto, as montanhas que existem em seu território constituem espaços de alto valor para a proteção de ecossistemas, promoção do turismo e regulação climática, além de outros atributos, inclusive sociais e culturais.
Dentre tantos benefícios para a sociedade, as montanhas também possuem a capacidade de captar água da atmosfera e, por meio de suas nascentes, córregos e rios, abastecer as populações das cidades localizadas em áreas mais baixas. Essa virtude, no entanto, relaciona-se diretamente com a integridade da vegetação nativa das montanhas. As florestas e os campos de altitude característicos das áreas mais elevadas do Brasil são fundamentais para garantir o armazenamento da água das chuvas e, juntamente com o sub-bosque e o solo preservados, alimentar de forma continuada brejos e nascentes componentes da malha hídrica, com seus córregos, rios e lagos.
Mas a função das árvores vai além. No caso das matas nebulares, elas são capazes de captar o vapor da neblina, condensa-lo e transferir a água para o solo.  Estudos realizados na Costa Rica sugerem que a captação de água da neblina pelas árvores pode contribuir com até 30% do volume dos rios de uma região.
O projeto "Mudanças Climáticas em Montanhas Brasileiras: Respostas funcionais de plantas nativas de campos rupestres e campos de altitude a secas extrema", apoiado pela Fapesp e coordenado por  Rafael Silva Oliveira – IB/Unicamp, realizado no Parque Estadual de Campos do Jordão, comprova a importância das florestas de altitude no abastecimento dos muitos mananciais formares dos rios que abastecem as cidades localizadas mais abaixo.
O regime das chuvas é complexo e envolve muitas variáveis, mas a proteção dos ecossistemas de montanha é uma das ações fundamentais para garantir a perenidade dos grandes rios. No caso das serras da Mantiqueira e da Bocaina, aprimorar a gestão de seus mosaicos de áreas protegidas beneficia diretamente a milhões de pessoas que utilizam as águas do rio Paraíba do Sul.
 
 LF Cesar
 
http://ambienteregionalagulhasnegras.blogspot.com.br/2014/09/montanhas-florestas-agua-e-cidades.html